quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

ALA ... que é poesia XI

E quando a poesia de António Lobo Antunes chega a uma das mais bonitas vozes do nosso fado? O poema "Quando Julgas Que Me Amas" surge no disco "Não Há Só Tangos Em Paris", de 2011, da maravilhosa Cristina Branco. A ler e ouvir hoje, aqui. 

Ana Almeida


Quando julgas que me amas

Se perguntasse em redor
O que foi feito de nós
Que silêncio meu amor
À volta da minha voz

Não é a mim que tu tocas
Quando julgas que me amas
Que coisas dizem as bocas
Ao fingirmos que me chamas?

Uma só cama no quarto
E dois sonhos separados
Meu amor no teu retrato
Vejo os meus olhos parados

Não penses que perdoei
Só por te abraçar assim
Nem vás pensar que chorei:
Foi a vidraça por mim

Vesti-me da sua vida
Por dentro da minha pele:
Com a ternura assim escondida
Não vão dizer que sou dele

E guardo os olhos no lenço
Ao passar na sua rua
Quem sabe que lhe pertenço?
Quem descobre que ando nua?

Ele chega quando eu parto
Volto sozinha depois.
Só dentro do nosso quarto
De repente somos dois 


António Lobo Antunes


2 comentários: