E redescubro-o em mais um poema de António Lobo Antunes, ao balcão da mítica Bénard. Ainda ALA ... que é poesia, uma compilação em curso. E hoje a voz de Vitorino, em cujo disco "Eu Que Me Comovo Por Tudo e Por Nada" se inclui também este poema.
Valsa das viúvas da pastelaria Bénard
Cada qual de cão ao colo
damos de comer ao cão
chá e migalhas de bolo
pão-de-ló de Alfezeirão.
Arejamos com o leque
calores dos 60 anos
pérolas de pechisbeque
brincos de prata ciganos.
Lá em casa convivemos
com os estalos da mobília
tristes silêncios serenos
doçuras de chá de tília.
Réstias de sol nas janelas
de cortinas desbotadas
candelabros de três velas
retratos das afilhadas.
A crueldade do espelho
vem mostrar-nos de manhã
ruínas de um corpo velho
num casaquinho de lã.
E à cabeceira da cama
o riso do falecido
garante qu'inda nos ama
por trás da placa de vidro.
Ai felicidade perdida
porque a mágoa não tem fundo
o cão ladra contra a vida
nós ladramos contra o mundo.
António Lobo Antunes
damos de comer ao cão
chá e migalhas de bolo
pão-de-ló de Alfezeirão.
Arejamos com o leque
calores dos 60 anos
pérolas de pechisbeque
brincos de prata ciganos.
Lá em casa convivemos
com os estalos da mobília
tristes silêncios serenos
doçuras de chá de tília.
Réstias de sol nas janelas
de cortinas desbotadas
candelabros de três velas
retratos das afilhadas.
A crueldade do espelho
vem mostrar-nos de manhã
ruínas de um corpo velho
num casaquinho de lã.
E à cabeceira da cama
o riso do falecido
garante qu'inda nos ama
por trás da placa de vidro.
Ai felicidade perdida
porque a mágoa não tem fundo
o cão ladra contra a vida
nós ladramos contra o mundo.
António Lobo Antunes
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PARA ASSISTIR AO VIDEO SIGA O LINK http://www.youtube.com/watch?v=KZh3byx-VII |
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