segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ALA... que é poesia I

Não é que eu ame António Lobo Antunes acima de qualquer outro. Não é isso. Longe disso. É apenas que o redescubro a cada esquina, ora numa crónica que podia ser poema, ora num poema que alguém cantou. Sim, poesia. 

Que ALA também é poesia - embora nem um livro para o provar.

Há dias em que diria que ele é apenas poesia. Dura, cheia de esquinas e calçadas íngremes, horas de chuva e uma nesga de sol, folhas caídas de um plátano longevo e um cardo.

Decidi juntar aqui - sob o lema ALA ... que é poesia - os poemas que andam espalhados e cantados por aí por nomes como Vitorino, Carlos do Carmo e Cristina Branco.. De alguns só encontrei letras e nada de vídeos. Uma aventura de recolha que só 2014 saberá onde me vai levar. Um bom projecto para começar o novo ano, não acham?

Ana Almeida

---- <> ----

Para começar, o Bolero do Coronel Sensível Que Fez Amor em Monsanto.
Vitorino gravou-o em 1992 no disco "Eu Que Me Comovo Por Tudo e Por Nada". Mas destaco aqui uma versão mais recente, uma cover da banda A Naifa, surgida agora em Novembro último, no disco "As Canções d'A Naifa". Disponível fica ainda uma outra versão, pela banda Boitezuleika.

Bolero do Coronel Sensível Que Fez Amor em Monsanto

"Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste,
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor, a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fiz serão
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
"

António Lobo Antunes



Para ver este video siga o link http://www.youtube.com/watch?v=fnkLU5f9cSU



Sem comentários:

Enviar um comentário