terça-feira, 5 de novembro de 2013

«Falso Jardim», por Marcos Foz

Falso Jardim

Cresce a flor de pedra
no meio de meu jardim,
como a porta que encerra
feita de madeira de cetim.

Olha os meus sapatos sujos, Maria.

Balbucia-se no tumulto
num défice de razão
que parece insulto
sem aparente explicação.

Olha os meus sapatos sujos, Maria.
  
Os mastros movem-se em rumo
ao paradoxo, em marés modernas
de temperamento tenebroso e
pouco ortodoxo, como órfão que recebe
carícias paternas.

Olha os meus sapatos sujos, Maria.

Saltei num trampolim inerte,
e meus pés afundaram
como seixo pesado em areia molhada,
meus olhos viram
que era homem morto na estrada.

Olha os meus sapatos sujos, Maria.

Os jardins não têm espaço
pra flores, só para corpos que já
não têm dores, o que é pena...
pétalas de cores, bem melhor
que carne e aço.

Descalcei-me, Maria.

*Marcos Foz


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