Temos visto Carla Sá aqui pelo blog, com a sua colecção "Detetive Psíquico" - lançada recentemente pela QuidNovi. Espaço agora para conhecerem a autora, espero que gostem desta entrevista.
Rodrigo Ferrão: Como surgiu a ideia de escrever “Detetive Psíquico”?
Carla Sá: Eu queria escrever algo diferente do que existe actualmente,
até porque a vida é feita de renovação e a literatura também. E esta série, a
meu ver, contribui para essa renovação, pela originalidade de alguns aspectos. A
opção pelo paranormal é um deles, mas plasmando-o no real, pois o personagem
central está longe de ser um super-herói; pelo contrário, é um rapaz normal a
quem acontecem coisas... anormais. Graças a elas, vê-se arrastado, sem remédio,
para as suas aventuras e há mesmo alturas em que lamenta não ser normal, o que
lhe facilitaria a vida. Na verdade, é um herói involuntário.
RF: Porquê uma personagem com capacidades psíquicas?
Carla Sá: A partir daí, é possível erguer o véu da aparência e da
normalidade, penetrando em zonas que permanecem misteriosas. A literatura,
sobretudo para os mais novos, tende às atitudes moralizadoras e normalizadoras,
ou pedagógicas, mas aqui trata-se apenas de contar bem uma boa história e, em
vez de ensinar o pouco que sempre se sabe, abrir para aquilo que se desconhece.
A literatura, a imaginação, as histórias são um óptimo instrumento para
lidarmos e questionarmos o que se desconhece, essa zona de mistério de que
também é feita a existência.
E se há algo que
desconhece são as capacidades cerebrais. Do que seremos capazes quando
conseguirmos usar toda essa nossa potencialidade? Um novo mundo se abrirá para
esses homens. Ora, o Gustavo do livro é apenas um dos que, por isto ou por
aquilo, já está um passo à frente e vê um pouco mais do que nós ainda somos
capazes. Como disse, William Buttler Yeats “o mundo visível é apenas a pele do
mundo verdadeiro”. Nesta série, trata-se de levantar o véu da aparência e do
que normalmente aceitamos por real, de modo a podermos ver, ao menos, um pouco
mais além.
RF: Álvaro Magalhães ajudou na apresentação do seu livro.
Como surgiu o convite?
Carla Sá: Eu sempre fui leitora e admiradora dos romances juvenis do
Álvaro Magalhães, inclusive da sua série “Triângulo Jota” onde as histórias são
frequentemente paranormais também. Talvez por isso, foi a pessoa em que logo
pensaram, na editora, para essa apresentação. Ele leu os livros, gostou muito e
aceitou o convite, o que me deixou muito feliz.
RF: Sempre teve vontade de escrever ou esse foi um desafio recente?
Carla Sá: Sempre tive o apelo da escrita, desde jovem. Passava tardes
da minha infância, na biblioteca dos meus pais, esquecida de tudo o mais. Foi
lá que li as minhas primeiras histórias e experimentei uma máquina de escrever
que tinha pertencido ao meu avô e que está, agora, diante de mim, enquanto
escrevo estas palavras.

RF: Porque escreve para um público mais jovem? Imaginava-se a
escrever para adultos?
Carla Sá: Penso que estas temáticas, seja do paranormal, do poético,
do fantasioso, são adequadas a um público mais jovem, que estão mais
disponíveis para elas. Mas podem ser lidas, também por leitores adultos. Mas
escrever exclusivamente para adultos? Fiquei feliz por poder publicar esta
série e, para já, estarei ocupada a desenvolvê-la da melhor maneira que puder e
souber. Um passo de cada vez.
RF: Quais são as suas influências na escrita. Pode dizer-nos
escritores de que goste particularmente?
Carla Sá: Estão sempre na minha
memória as leituras essenciais da juventude (e ainda hoje os releio, com prazer
e com outro olhar, naturalmente) “Alice no País das Maravilhas” de Carroll, “A
Ilha do Tesouro” de Stevenson, “As Viagens de Gulliver” de Swift… Também li séries de aventura e mistério, as
melhores e também as que nem por isso, e creio que aprendi com todas. Quase
decorei o modelo porque a minha intenção era reformulá-lo.
Do que goste particularmente? Da elegância da prosa de R.L.
Stevenson, em que nenhuma palavra levanta a cabeça. Estamos a ler e
esquecemo-nos que estamos a ler, que é o melhor elogio que se pode fazer a um
livro e a um escritor.
RF: "Olho por olho, e o mundo acabará cego" de Gandhi é uma
frase que lhe diz muito. Em que medida?
Carla Sá: É uma frase que dá que pensar. Na minha perspectiva, temos
de repensar os nossos actos, rever o conceito de justiça ou corre-se o sério
risco de a humanidade perder o bom senso.
RF: Em duas ou três frases... porque é que as pessoas devem
comprar e ler os seus livros?
Carla Sá: Eu preocupei-me e
concentrei-me apenas em contar bem uma boa história, com o máximo de eficácia e
plasticidade possível, sem outra preocupação do que cativar e envolver o
leitor. E usando dois dos principais ingredientes das boas histórias:
estranheza e reconhecimento. Reconhecimento porque os personagens são construídos,
não pela acção, mas pelo mundo interior e são reconhecíveis, reais; e
estranheza porque o personagem principal, quando acorda do estado de coma, após
um acidente, vê e ouve um homem que, vem a saber depois, tinha morrido no dia
anterior.
RF: Muito obrigado Carla e sucesso para os seus livros.
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