sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Entrevista a Carla Sá - autora da colecção «Detetive Psíquico»

Temos visto Carla Sá aqui pelo blog, com a sua colecção "Detetive Psíquico" -  lançada recentemente pela QuidNovi. Espaço agora para conhecerem a autora, espero que gostem desta entrevista. 


Rodrigo Ferrão: Como surgiu a ideia de escrever “Detetive Psíquico”?

Carla Sá: Eu queria escrever algo diferente do que existe actualmente, até porque a vida é feita de renovação e a literatura também. E esta série, a meu ver, contribui para essa renovação, pela originalidade de alguns aspectos. A opção pelo paranormal é um deles, mas plasmando-o no real, pois o personagem central está longe de ser um super-herói; pelo contrário, é um rapaz normal a quem acontecem coisas... anormais. Graças a elas, vê-se arrastado, sem remédio, para as suas aventuras e há mesmo alturas em que lamenta não ser normal, o que lhe facilitaria a vida. Na verdade, é um herói involuntário.
  
RF: Porquê uma personagem com capacidades psíquicas?

Carla Sá: A partir daí, é possível erguer o véu da aparência e da normalidade, penetrando em zonas que permanecem misteriosas. A literatura, sobretudo para os mais novos, tende às atitudes moralizadoras e normalizadoras, ou pedagógicas, mas aqui trata-se apenas de contar bem uma boa história e, em vez de ensinar o pouco que sempre se sabe, abrir para aquilo que se desconhece. A literatura, a imaginação, as histórias são um óptimo instrumento para lidarmos e questionarmos o que se desconhece, essa zona de mistério de que também é feita a existência.

E se há algo que desconhece são as capacidades cerebrais. Do que seremos capazes quando conseguirmos usar toda essa nossa potencialidade? Um novo mundo se abrirá para esses homens. Ora, o Gustavo do livro é apenas um dos que, por isto ou por aquilo, já está um passo à frente e vê um pouco mais do que nós ainda somos capazes. Como disse, William Buttler Yeats “o mundo visível é apenas a pele do mundo verdadeiro”. Nesta série, trata-se de levantar o véu da aparência e do que normalmente aceitamos por real, de modo a podermos ver, ao menos, um pouco mais além.
  
RF: Álvaro Magalhães ajudou na apresentação do seu livro. Como surgiu o convite?

Carla Sá: Eu sempre fui leitora e admiradora dos romances juvenis do Álvaro Magalhães, inclusive da sua série “Triângulo Jota” onde as histórias são frequentemente paranormais também. Talvez por isso, foi a pessoa em que logo pensaram, na editora, para essa apresentação. Ele leu os livros, gostou muito e aceitou o convite, o que me deixou muito feliz.

RF: Sempre teve vontade de escrever ou esse foi um desafio recente?

Carla Sá: Sempre tive o apelo da escrita, desde jovem. Passava tardes da minha infância, na biblioteca dos meus pais, esquecida de tudo o mais. Foi lá que li as minhas primeiras histórias e experimentei uma máquina de escrever que tinha pertencido ao meu avô e que está, agora, diante de mim, enquanto escrevo estas palavras.


RF: Porque escreve para um público mais jovem? Imaginava-se a escrever para adultos?

Carla Sá: Penso que estas temáticas, seja do paranormal, do poético, do fantasioso, são adequadas a um público mais jovem, que estão mais disponíveis para elas. Mas podem ser lidas, também por leitores adultos. Mas escrever exclusivamente para adultos? Fiquei feliz por poder publicar esta série e, para já, estarei ocupada a desenvolvê-la da melhor maneira que puder e souber. Um passo de cada vez.

RF: Quais são as suas influências na escrita. Pode dizer-nos escritores de que goste particularmente?

Carla Sá: Estão sempre na minha memória as leituras essenciais da juventude (e ainda hoje os releio, com prazer e com outro olhar, naturalmente) “Alice no País das Maravilhas” de Carroll, “A Ilha do Tesouro” de Stevenson, “As Viagens de Gulliver” de Swift…  Também li séries de aventura e mistério, as melhores e também as que nem por isso, e creio que aprendi com todas. Quase decorei o modelo porque a minha intenção era reformulá-lo. 

Do que goste particularmente? Da elegância da prosa de R.L. Stevenson, em que nenhuma palavra levanta a cabeça. Estamos a ler e esquecemo-nos que estamos a ler, que é o melhor elogio que se pode fazer a um livro e a um escritor.

RF: "Olho por olho, e o mundo acabará cego" de Gandhi é uma frase que lhe diz muito. Em que medida?

Carla Sá: É uma frase que dá que pensar. Na minha perspectiva, temos de repensar os nossos actos, rever o conceito de justiça ou corre-se o sério risco de a humanidade perder o bom senso.

RF: Em duas ou três frases... porque é que as pessoas devem comprar e ler os seus livros?

Carla Sá: Eu preocupei-me e concentrei-me apenas em contar bem uma boa história, com o máximo de eficácia e plasticidade possível, sem outra preocupação do que cativar e envolver o leitor. E usando dois dos principais ingredientes das boas histórias: estranheza e reconhecimento. Reconhecimento porque os personagens são construídos, não pela acção, mas pelo mundo interior e são reconhecíveis, reais; e estranheza porque o personagem principal, quando acorda do estado de coma, após um acidente, vê e ouve um homem que, vem a saber depois, tinha morrido no dia anterior.  

RF: Muito obrigado Carla e sucesso para os seus livros.

*Conheça os livros nestes links:

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