sábado, 9 de novembro de 2013

Cronicando pela Ásia... reflexão sobre as crianças na Ásia

As crianças


Na Tailândia há imensas crianças. Não há nenhuma feia, pelo que dá vontade de adoptar todas. Hoje o dia levou-me a prestar particular atenção a todos estes meninos e meninas de cara alegre e olhos escuros.

As crianças daqui são muito cedo autónomas. É vê-las a passar na rua, a andar de mota com a família, a ajudarem no restaurante a recolher a louça suja...

Fazem-no não por obrigação ou castigo. Estão nutridas de um especial desígnio que as leva naturalmente a participar nas responsabilidades do agregado familiar.

Mas as crianças aqui brincam umas com as outras, jogam, riem-se e divertem-se.

Bem diferente dos meninos do Cambodja, bem mais pobres e sem comida para viver. Estes são obrigados a trabalhar, a andar na estrada a vender água, pulseiras, postais aos estrangeiros... Depois entregam a receita aos pais que estão do outro lado a vender bebidas e comida.

Voltando à Tailândia e ao dia de hoje, fiquei, mais uma vez, estupefacto com a autonomia destas crianças.

Estava no supermercado a comprar uma água antes de partir para uma viagem de 12 horas que me levará de volta a Bangkok, quando reparo que, à minha frente na fila de pagamento, está uma menina que seguramente não tem mais de 5 anos. 

Enganem-se aqueles que julgam que ela estava acompanhada por alguém mais velho. Sacou do dinheiro, pagou aquilo que levou e saiu porta fora como se nada fosse.

No autocarro que me leva a Bangkok, sento-me bem perto de um rapazito nos seus 8 anos e sua mãe. 

Sou levado pelo espírito de "meter conversa". Uma conversa obviamente muda, por imagens criadas com as mãos e o simples olhar.

Faço dois tipos de avião de papel com um pequeno bloco de post its.

É impossível descrever a felicidade que despertou. Uma imagem que vale tudo. Posso dizer apenas que me encheu o coração, a alegria palpitou dentro de mim.

Mais tarde fiz aviões para outros meninos que seguiam à frente. Os três começaram a brincar. E todos me agradeceram o presente com as mãos unidas como se estivessem em oração.

Adormeci. Quando volto a acordar, vejo o meu novo amigo com a pestana bem aberta e a olhar para mim.

Resolvo então mostrar-lhe as minhas fotos e vídeos da câmara. São fotos do mar, de grutas e montanhas que do mar emergem, de morcegos que vivem na escuridão, fotos de barcos e barquinhos...

Reparo na inquietude do miúdo quando, por momentos, fecho os olhos. Ele está à minha espera e não o posso desapontar. Afinal não é todos os dias que se está com um estrangeiro caucasiano de pele clara - o que, para ele, representa um enorme choque de cultura e um misto de admiração e curiosidade. 

Decido ensinar-lhe a fazer aviões. Primeiro ele imita os meus passos. Depois dou-lhe uma folha para fazer sozinho.

Aprendeu rápido e conseguiu seguir toda a lógica.

Para o segundo modelo (mais difícil) adoptei a mesma táctica. Passou com distinção.

Dentro de algumas horas nunca mais me cruzo com esta criança. Mas uma coisa ele e eu levamos - a recordação deste momento para a vida.

p.s.- ensinei os aviões aos outros dois. A mesma destreza.

(saio do autocarro. O meu amigo tinha me deixado um barquinho...)

Rodrigo Ferrão 
(algures entre Pukhet e Bangkok, 1 de Maio 2009 - 22.30h)

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