segunda-feira, 2 de setembro de 2013

«Noites Brancas»: Fiódor Dostoiévski em Setembro

A leitura conjunta de Setembro é «Noites Brancas» de Dostoiévski. A minha versão é a da Biblioteca editores Independentes (colecção BI), neste caso da Assírio & Alvim e tradução de Nina e Filipe Guerra. Se não encontrarem esta edição, a história acaba de ser publicada pelo Clube do Autor. Em alternativa, poderão arranjar a edição da Europa-América

Conheçam o romance que nos vai juntar em mais uma aventura... Espero que gostem! 

Noites Brancas (publicado pela primeira vez numa revista em 1848) esboça a figura de mais um herói proscrito da lista de Dostoiévski, desta feita o sonhador. Este sonhador de Noites Brancas não é só um romântico lamechas, mas uma “aberração” social, como o próprio autor (em Crónicas de Petersburgo, 1847) explica: não podendo o homem encontrar o seu lugar no mundo, “(...) nos caracteres ansiosos da actividade, mas fracos, femininos, ternos, nasce a pouco e pouco aquilo a que se chama ‘sonhadorismo’, e o homem deixa de ser homem, torna-se uma espécie esquisita... — o ‘sonhador’ (...). A realidade produz no coração do sonhador uma impressão grave, hostil, que então se apressa a meter no seu cantinho secreto e dourado, que na realidade é, não raro, poeirento, desmazelado, desarrumado e porco. A pouco e pouco, o nosso rebelde começa a alienar-se dos interesses comuns e, gradualmente, imperceptivelmente, começa a embotar-se nele o talento de viver na vida real.” É assim o herói de Noites Brancas, mergulhado na sua trágica solidão. A linguagem deste conto, fazendo jus ao eclectismo do autor neste particular, assume-se ironicamente e de raiz como melifluamente romântica.

Noites Brancas refere-se às noites do início do Verão em que não escurece, fenómeno observado em ambos os hemisférios a partir dos 60 graus de latitude norte e sul (em Petersburgo vai de 11 de Junho a 2 de Julho). Estas noites de Petersburgo que imitam o dia são o símbolo que preside ao conto de Dostoiévski: o sonho imitando a vida, até se tornar nela, para sempre.

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