O meu a-ver-livros de ontem. Traduzido.
Porque foi divertido. Porque as palavras são tanto o que fizermos delas - e tomara eu fazer delas as coisas grandes que os meus sonhos imaginam. Porque as palavras têm vidas próprias e caminhos estranhos, tornando a viagem uma permanente descoberta da capacidade de dizermos o universo. Mesmo que seja apenas o nosso.
Em permanente e metódico caos.
~*~
Na metódica criação do universo
o caos são palavras
criadas à revelia
o caos é merripen
e iktsuarpok
talvez também nakhur
e um pouquinho de koro.
O caos sou eu
pochemuchka
~*~
Merripen - em romani, a língua cigana, significa a dualidade vida/morte. Curiosamente, em Inglaterra, foi em tempos idos um nome dado aos rapazes.
Iktsuarpok- em inuíte, a língua dos esquimós, significa aquela pessoa que está à espera de alguém, de convidados, por exemplo, e passa o tempo a ir à porta ver se estão a chegar. Uma espécie de ansiedade, talvez. Que também pode descrever as nossas constantes idas ao mail ver se já chegou aquele de que estamos à espera, não é...
Nakhur- palavra persa que se refere a um camelo fêmea que não dá leite enquanto não fizerem cócegas nas suas narinas. E só isto.
Koro - em japonês, o medo de que o próprio pénis esteja a encolher para dentro do corpo.
Pochemuchka - em russo, uma pessoa que faz muitas perguntas. Vem de 'pochemu', que significa 'porquê'.
~*~
Eis a versão 'traduzida':
Na metódica criação do universo
o caos são palavras
criadas à revelia
o caos é vida e morte
e ansiedade
talvez também uma camelo fêmea
que não dá leite enquanto
não coçam as suas narinas
e um pouquinho de medo
que o pénis encolha
para dentro do corpo
O caos sou eu
a mulher que faz
muitas perguntas
~*~
Termino assim por hoje: gadrii nombor shulen jongu.
Ou seja, em tibetano, dando uma resposta verde a uma pergunta azul.
Chama-se desconversar, está bem?
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