sexta-feira, 19 de julho de 2013

a-ver-livros: traduzindo o caos e Ana Almeida

O meu a-ver-livros de ontem. Traduzido.
Porque foi divertido. Porque as palavras são tanto o que fizermos delas - e tomara eu fazer delas as coisas grandes que os meus sonhos imaginam. Porque as palavras têm vidas próprias e caminhos estranhos, tornando a viagem uma permanente descoberta da capacidade de dizermos o universo. Mesmo que seja apenas o nosso. 

Em permanente e metódico caos.

~*~

Na metódica criação do universo
o caos são palavras
criadas à revelia  

o caos é merripen  
e iktsuarpok  
talvez também nakhur 
e um pouquinho de koro

O caos sou eu   
pochemuchka

~*~ 

Merripen - em romani, a língua cigana, significa a dualidade vida/morte. Curiosamente, em Inglaterra, foi em tempos idos um nome dado aos rapazes.

Iktsuarpok- em inuíte, a língua dos esquimós, significa aquela pessoa que está à espera de alguém, de convidados, por exemplo, e passa o tempo a ir à porta ver se estão a chegar. Uma espécie de ansiedade, talvez. Que também pode descrever as nossas constantes idas ao mail ver se já chegou aquele de que estamos à espera, não é...

Nakhur- palavra persa que se refere a um camelo fêmea que não dá leite enquanto não fizerem cócegas nas suas narinas. E só isto. 

Koro - em japonês, o medo de que o próprio pénis esteja a encolher para dentro do corpo.

Pochemuchka - em russo, uma pessoa que faz muitas perguntas. Vem de 'pochemu', que significa 'porquê'. 


~*~ 
 
Eis a versão 'traduzida':
 


Na metódica criação do universo 
o caos são palavras
criadas à revelia

o caos é vida e morte
e ansiedade
talvez também uma camelo fêmea
que não dá leite enquanto 
não coçam as suas narinas 
e um pouquinho de medo
que o pénis encolha
para dentro do corpo


  O caos sou eu
a mulher que faz

muitas perguntas


~*~ 

Termino assim por hoje: gadrii nombor shulen jongu.
Ou seja, em tibetano, dando uma resposta verde a uma pergunta azul
Chama-se desconversar, está bem?


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