Assim começa o Capítulo I do livro que lemos este mês.
Há quem entre muito tarde no teatro da vida, Porém, quando o faz, parecer que entra desencabrestado e directo ao fim da obra. Foi esse o meu caso. E hoje posso afirmá-lo com toda a segurança. A representação começou na manhã em que a minha mulher me entregou uma carta que acabava de chegar da Suiça, um convite para participar num congresso literário sobre o Fracasso.
Encontrava-me no terraço do apartamento a nordeste de Barcelona, a velha casa que habitávamos há já muitos anos e que fechámos há apenas uns meses. A minha mulher chegou ao terraço com uma pompa nada habitual e ensaiou uma reverência teatral antes de me anunciar que, pelo teor da carta, alguém me considerava um completo fracassado. Surpreendeu-me o seu teatro, porque ela nunca costumava actuar exageradamente. Quereria, com o seu histrionismo, minimizar a gravidade do que dizia? Fosse pelo que fosse, não esquecerei esse momento, porque inaugurou uma história dentro da minha vida, uma história que paulatinamente iria reclamando cada vez mais a minha atenção nas semanas seguintes.
*Ar de Dylan, da Teodolito. Leitura conjunta do mês de Julho.
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