sábado, 1 de junho de 2013

Reinaldo Ferreira: a cavalo do arco-íris

Era miúda. E fui. Encontrei já não sei onde uma ilustração linda para um poema lindo. "Quero um cavalo de várias cores", dizia. E eu repetia, lendo para mim o resto dos versos enquanto perdia o olhar no desenho do cavalinho.

 Hoje já não sei onde anda esse recorte que guardei carinhosamente. Talvez numa das caixas cheias de diários e recuerdos que escondi na prateleira mais alta da arrecadação. Mas o poema continua a repetir-se, baixinho, cá dentro. "Quero-o depressa que vou partir".  

 
Não partia nem chegava, apenas estava, quando tropecei de novo no poema bonito de Reinaldo Ferreira. Agora com voz, agora com música, numa versão cantada por Filipa Pais no CD "À Porta do Mundo" (2004). 

E, de repente, era menina de novo. O mundo um portão aberto para todos os sonhos. A poesia o meu porto seguro. 



Quero um cavalo de várias cores

"Quero um cavalo de várias cores,
Quero-o depressa, que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir.

Quero uma sela feita de restos
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva - nimbos e cerros -
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.

Quero que as rédeas façam prodígios:
Voa, cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.

Deixem que eu parta, agora, já,
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como posso partir sozinho
Sem um cavalo de várias cores?
"


Reinaldo Ferreira

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Se tiverem curiosidade, apreciem também estas duas outras formas de dizer/ouvir o poema de Reinaldo Ferreira:
A primeira, uma versão de João Maria Tudella, no disco "Tudella Canta Música de Pedro Jordão", com direcção musical e orquestra de Jorge Machado.
A segunda, apenas voz. A de Luís Gaspar.


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