terça-feira, 18 de junho de 2013

É do borogodó: Multimídia - olhos para ler

Não existe um único jeito de ler. As plataformas para leitura são diversas, desde uma lata de molho de tomate até uma série infindável de legendas em filmes com amplos diálogos. Estamos a ler.
Todavia, no entanto, contudo, ler pressupõe conhecer os símbolos e a estrutura estabelecida para disposição deles.

Venho insistindo na leitura da imagem como leitura de história, talvez ingenuamente acreditando que alguém vá ingressar nas tais viagens que flutuam dentro da minha cabeça.
Ler envolve o ser, não se separa o leitor da escrita e nem a escrita do escritor, por isso é complexo falar em interpretação de texto. Da mesma forma, é complexo dizer que este quadro é belo e o outro é frio, quase dispensável. Tudo depende.

A leitura pode ser um processo de descoberta, um desafio. A leitura pode ser uma brincadeira, até uma piada. A leitura pode ser massacrante. A leitura pode ser dolorosa e mesmo assim conquistar o leitor.

Refletir. Este talvez seja o verbo ler. Refletir induz à meditação tanto quanto reconhece a repercussão dos raios de luz. Um espelho reflete a imagem que está a sua frente (embora reinterprete a imagem invertendo-a). Mais do que entender a língua na qual se expressa o escritor, o leitor abusa imprimindo na leitura seus sentimentos, recontando a história dentro das suas próprias vivências, reelaborando uma intenção na ação do personagem.

Ler é integrar conhecimento ao conhecimento.
Não se parte do zero para uma leitura. O ponto de partida é tudo que vivemos até agora. Por isso é tão subjetivo e consequentemente tão rico.

Ainda há outro aspecto muitíssimo relevante que devemos considerar na leitura, o ler leva em consideração a pré-disposição que o sujeito tem de absorver o algo novo. Há leitores esponjas, há leitores impermeáveis. Mesmo discordando, os leitores esponjas conseguem aceitar a leitura como um estímulo ao pensamento e uma nova carga de oxigênio para a vida. O leitor impermeável não, ele recusa temendo perder as próprias convicções.
Mas tantas são as plataformas de leitura e, como diz o ditado, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, nenhum leitor escapa da mutação.

Os estímulos estão aí a todo tempo. As mutações acontecem independentemente da vontade das partes.
Ora bolas se assim é, melhor ser permeável, mais flexível; o maleável consegue ocupar espaços e passar pelas frestas que interessam. O sujeito duro, inflexível e contido nas suas razões fica ali parado, apanhando até ser arrastado pelo tempo.

Multimídias, somos da era do compartilhar de ideias, da observação constante. As plataformas são muitas. Muitas são as ideias. Muitos são os olhos e todos eles já chegam para ler com lentes polidas – alguns enxergam de perto, outros de longe, outros colocam tantos filtros nas lentes que quase já não podem enxergar a paisagem.

Fomentar a leitura reflexiva é tornar o observador um agente crítico e livre. Para ser livre, o leitor aprecia a liberdade alheia e compreende o quanto é importante o debate apoiado na permeabilidade. Bom exemplo disso é a contação de história. Contar histórias é saber ler os olhos dos leitores, ver brotar o interesse, dialogar com as expectativas. Sempre dialogar.

Ler é procurar saber de nós todos.


Penélope Martins

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