Não existe um único jeito de ler. As plataformas para leitura são
diversas, desde uma lata de molho de tomate até uma série infindável de
legendas em filmes com amplos diálogos. Estamos a ler.
Todavia, no entanto, contudo, ler pressupõe conhecer os símbolos e a estrutura estabelecida para disposição deles.
Venho insistindo na leitura da imagem como leitura de história,
talvez ingenuamente acreditando que alguém vá ingressar nas tais viagens
que flutuam dentro da minha cabeça.
Ler envolve o ser, não se separa o leitor da escrita e nem a escrita
do escritor, por isso é complexo falar em interpretação de texto. Da
mesma forma, é complexo dizer que este quadro é belo e o outro é frio,
quase dispensável. Tudo depende.
A leitura pode ser um processo de descoberta, um desafio. A leitura
pode ser uma brincadeira, até uma piada. A leitura pode ser massacrante.
A leitura pode ser dolorosa e mesmo assim conquistar o leitor.
Refletir. Este talvez seja o verbo ler. Refletir induz à meditação
tanto quanto reconhece a repercussão dos raios de luz. Um espelho
reflete a imagem que está a sua frente (embora reinterprete a imagem
invertendo-a). Mais do que entender a língua na qual se expressa o
escritor, o leitor abusa imprimindo na leitura seus sentimentos,
recontando a história dentro das suas próprias vivências, reelaborando
uma intenção na ação do personagem.
Ler é integrar conhecimento ao conhecimento.
Não se parte do zero para uma leitura. O ponto de partida é tudo que
vivemos até agora. Por isso é tão subjetivo e consequentemente tão rico.
Ainda há outro aspecto muitíssimo relevante que devemos considerar na
leitura, o ler leva em consideração a pré-disposição que o sujeito tem
de absorver o algo novo. Há leitores esponjas, há leitores impermeáveis.
Mesmo discordando, os leitores esponjas conseguem aceitar a leitura
como um estímulo ao pensamento e uma nova carga de oxigênio para a vida.
O leitor impermeável não, ele recusa temendo perder as próprias
convicções.
Mas tantas são as plataformas de leitura e, como diz o ditado, “água
mole em pedra dura tanto bate até que fura”, nenhum leitor escapa da
mutação.
Os estímulos estão aí a todo tempo. As mutações acontecem independentemente da vontade das partes.
Ora bolas se assim é, melhor ser permeável, mais flexível; o maleável
consegue ocupar espaços e passar pelas frestas que interessam. O
sujeito duro, inflexível e contido nas suas razões fica ali parado,
apanhando até ser arrastado pelo tempo.
Multimídias, somos da era do compartilhar de ideias, da observação
constante. As plataformas são muitas. Muitas são as ideias. Muitos são
os olhos e todos eles já chegam para ler com lentes polidas – alguns
enxergam de perto, outros de longe, outros colocam tantos filtros nas
lentes que quase já não podem enxergar a paisagem.
Fomentar a leitura reflexiva é tornar o observador um agente crítico e
livre. Para ser livre, o leitor aprecia a liberdade alheia e compreende
o quanto é importante o debate apoiado na permeabilidade. Bom exemplo
disso é a contação de história. Contar histórias é saber ler os olhos
dos leitores, ver brotar o interesse, dialogar com as expectativas.
Sempre dialogar.
Ler é procurar saber de nós todos.
Penélope Martins
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