sexta-feira, 28 de junho de 2013

1º Parágrafo: Clea


As laranjas foram este ano mais abundantes e opulentas. Brilhavam nos seus ninhos de um verde-pálido, como lanternas embaladas pelo vento, aparecendo aqui e alem por entre as árvores batidas pelo sol. Era como se quisessem celebrar a nossa partida da ilha – porque finalmente a muito esperada mensagem de Nessim tinha chegado como uma intimação para regressarmos ao mundo das trevas. Uma mensagem que ia atirar-me inexoravelmente de volta para a cidade que para mim tinha sempre pairado entre a ilusão e a realidade, entre a substância e as imagens poéticas que o seu próprio nome despertava em mim. Uma memoria, pensei, que tinha sido falsificada pelos desejos e intuições e apenas semirealizada no papel. Alexandria, a capital da memória! Todos os escritos que fui buscar aos vivos e aos mortos, até eu próprio me tornar uma espécie de pós-escrito de uma carta que nunca foi remetida...


* Edição de Cecília Andrade
* Tradução de Daniel Gonçalves
* Revisão de Clara Joana Vitorino 


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