As laranjas foram este ano mais abundantes e opulentas. Brilhavam nos
seus ninhos de um verde-pálido, como lanternas embaladas pelo vento, aparecendo
aqui e alem por entre as árvores batidas pelo sol. Era como se quisessem
celebrar a nossa partida da ilha – porque finalmente a muito esperada mensagem
de Nessim tinha chegado como uma intimação para regressarmos ao mundo das
trevas. Uma mensagem que ia atirar-me inexoravelmente de volta para a cidade
que para mim tinha sempre pairado entre a ilusão e a realidade, entre a
substância e as imagens poéticas que o seu próprio nome despertava em mim. Uma
memoria, pensei, que tinha sido falsificada pelos desejos e intuições e apenas
semirealizada no papel. Alexandria, a capital da memória! Todos os escritos que
fui buscar aos vivos e aos mortos, até eu próprio me tornar uma espécie de
pós-escrito de uma carta que nunca foi remetida...
* Edição de
Cecília Andrade
* Tradução de
Daniel Gonçalves
* Revisão de
Clara Joana Vitorino
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