terça-feira, 14 de maio de 2013

Cardoso Pires, a história do homem e da obra


José Augusto Neves Cardoso Pires, (São João do Peso, 2 de Outubro de 1925 — Lisboa, 26 de Outubro de 1998) foi um escritor português.

Viveu em São João do Peso, concelho de Vila de Rei, até ir para Lisboa com seus pais (ele oficial da Marinha, ela dona de casa). Entre 1935 e 1944 frequentou o Liceu Camões, onde foi aluno de Rómulo de Carvalho, iniciando, de seguida, uma nunca terminada licenciatura em Matemáticas Superiores, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Em 1945 alista-se na Marinha Mercante, como praticante de piloto sem curso, actividade que abandona compulsivamente, «suspeito de indisciplina e detido em viagem do navio Niassa». Optou então pelo jornalismo, tendo dirigido também as Edições Artísticas Fólio, onde Aquilino Ribeiro publicou O Retrato de Camilo, com litografias de Júlio Pomar e Carlos Botelho, e as traduções de D. Quixote e Novelas Exemplares, ilustradas por João Abel Manta. Na mesma editora, a colecção Teatro de Vanguarda, revelou em Portugal obras de Samuel Beckett, William Faulkner e Maiakovski. Em 1959 estagiou na revista Época, de [[Milão], com vista à publicação de um semanário que a censura impediu. A editora lança então a revista Almanaque, cuja redacção, coordenada por Cardoso Pires, é constituída por Luís Sttau Monteiro, Alexandre O'Neill, Vasco Pulido Valente, Augusto Abelaira e José Cutileiro. Colaborou também no Diário de Lisboa, na Gazeta Musical e de Todas as Artes e na revista Afinidades.

Unanimemente considerado um dos maiores escritores portugueses do século XX, numa galeria onde podemos encontrar nomes como José Saramago ou António Lobo Antunes, a sua carreira literária está marcada pela pela inquietação e pela deambulação. Autor de dezoito livros, publicados entre 1949 e 1997, não se identifica com nenhum grupo, nem se fixa em nenhum género literário, apesar de ser considerado sobretudo como um romancista. A sua relação mais duradoura no campo literário deu-se com o movimento neo-realista português, até ao 25 de Abril de 1974, justificada com a oposição ao regime autoritário português. A inserção da sua obra no neo-realismo é, por essas razões, contraditória. Frequentou também os grupos surrealistas, no início da década de 1940. Foi influenciado pela estética de Hemingway, pela narrativa cinematográfica, o que resulta em discursos curtos e diálogos concisos. O Delfim, de 1968, é geralmente considerado a sua obra-prima, em que o narrador assume uma condição de forasteiro, aparentemente descomprometido com uma realidade anacrónica. A Gafeira, aldeia inexistente, simboliza o Portugal marcelista, com um crime no centro da história. Tendo sido recebido, até 1974, como romance neo-realista, tem despertado um interesse crescente como narrativa pós-modernista. Pode efectivamente ser lido como o primeiro romance português no qual confluem as principais linguagens estéticas norteadoras do futuro pós-modernismo português devido à mistura de géneros, à polifonia, à fragmentação narrativa e à metaficção.

Foi sepultado em 1998 no Cemitério dos Prazeres em Lisboa. No âmbito do programa que evocou o 10º aniversário da morte de José Cardoso Pires, a Videoteca da Câmara Municipal de Lisboa produziu uma curta-metragem intitulada Fotogramas Soltos das Lisboas de Cardoso Pires, realizada por António Cunha.

Recebeu muitos prémios tanto a título individual como pelos livros editados.

Pelo conjunto da sua obra recebeu:

- Prémio Internacional União Latina, Roma, 1991
- Astrolábio de Ouro do Prémio Internacional Ultimo Novecento, Pisa, 1992
- Prémio Bordalo de Literatura da Casa da Imprensa, 1994
- Prémio Bordalo de Literatura da Casa da Imprensa, 1997
- Prémio Pessoa, 1997
- Grande Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores, 1998

Pelas suas obras recebeu:

- Prémio Camilo Castelo Branco, pelaa Sociedade Portuguesa de Escritores, 1964 (O Hóspede de Job)
- Grande Prémio de Romance e Novela, pela Associação Portuguesa de Escritores, 1982 (Balada da Praia dos Cães)
- Prémio Especial da Associação dos Críticos do Brasil, São Paulo, 1988 (Alexandra Alpha)
- Prémio D. Diniz, da Fundação Casa de Mateus, 1997 (De Profundis, Valsa Lenta)
- Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, 1997 (De Profundis, Valsa Lenta)

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