domingo, 14 de abril de 2013

Bibliotecas I





Quadro de Carlos Carvalho
para a exposição "A" Biblioteca
A inaugurar dia 17 de Abril p.f. na Galeria de Arte do Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados.

Eu sentada a tomar chá, sempre verde, a cada um as suas manias.
Eu a sentir-me espiada, observada, comentada, criticada, reprovada, arguida, ré, condenada antes de lida a sentença por todas as testemunhas, ou testemunhos?,  por todos os livros.
Mil olhos tem um livro.
Os livros que nunca abri, há capas tão bonitas, os que deixei a meio, amantes sôfregos que se sobrepõem aos amores, os mais que comprei e ainda não li, as filas de espera são, por definição, intermináveis.
O gesto que repito todos os meses, compro livros.
Se sou reincidente?
Como disse, todos os meses.
E não, nunca roubei um livro, os limões do limoeiro do meu vizinho, sim, acho que é até um favor, ao limoeiro, claro, não ao vizinho. Gosto de uma rodela de limão no chá, enfim!
E o resultado, livros, apenas livros ou, nas contas do deve e haver, um deficit, constante, acumulado, em crescendo, uma empresa em falência sem possibilidade de recuperação.
Os meus vícios?
Chá, sempre verde, de preferência com limão, cigarros, comprar livros.
Por esta ordem?
Não, desordenados.
Eu incomodada na cadeira, o chá frio a deixar-me um mau gosto de boca e, mais que um amargo de boca, um peso na consciência.
A consciência um peso de chumbo, ao lado dos pés, porque do chão não se passa, a não ser que se enfie num buraco. Acho que procurou um buraco.
E as testemunhas ou testemunhos, os livros, todos os meus livros, como se de profissão taxistas, uma frota em frete, à espreita pelo espelho retrovisor, a tentar perceber o que estou a fazer, o que vou fazer, será a isto que chamam o benefício da dúvida.




Sem comentários:

Enviar um comentário