domingo, 28 de abril de 2013

«A terra onde o tempo parou» - tive pena de terminar este livro

... E tirou o boné de marinheiro, o célebre boné do tio Pepin que simbolizava os velhos tempos dourados, e não só do tio Pepin, mas também do pai. O pai ofereceu o boné ao vento e, depois, arremessou o ao ar, ao sol, o boné planou e depois caiu à água e a corrente levou-o; até ao último momento o meu pai ficou a olhar para o boné levado pela corrente do Elba, o boné de marinheiro não se afundava e o pai tinha a impressão de que não só nunca se afundaria como nem sequer se podia afundar, e mesmo que se afundasse esse boné brilharia no seu espírito como uma lembrança luminosa. Quando o pai chegou a casa, a mãe disse: «Acabou de chegar a notícia de que o tio Pepin morreu». E o pai riu alegremente e acedeu: «Sim», disse, «eu sei».


Li dois livros de Hrabal: A terra onde o tempo parou e Uma solidão demasiado ruidosa. Nada mau, para um autor que não aparece na primeira linha de uma livraria há muito tempo. Mas este Checoslovaco tem tudo para ser um escritor de culto: fala de tristeza e melancolia com a mesma mestria com que nos faz rir e rebolar no chão.

Este livro é passado na região cortada pelo rio Elba e é, em primeiro lugar, um ensaio autobiográfico. Há uma semelhança evidente entre o narrador e Hrabal, pois o escritor foi filho de um dono de uma cervejaria. A acção deste livro eleva a cervejaria a fábrica; e a uma máquina muito especial que merece todo o cuidado do mundo - fiquei sempre com a sensação que se aquele motor parasse, a vida ficava por ali.

A máquina deixou de ser importante um dia. E fez com que dois homens regressassem a casa. Entre eles está o hilariante Pepin - o homem que fez um auto-convite para passar uns dias... mas que acabou por ficar bem quase até ao último suspiro. Só a galopante loucura o levou para longe. E longe morreu.

Em contraste com este final triste, Hrabal oferece-nos uma personagem que ficará para sempre na memória de quem leu este romance. Pepin é um frequentador de bares e cafés. Geralmente bêbado, mete-se com mulheres que rendem a sua beleza e clientes que entram e saem com o mesmo grau alcoólico. Este maluco faz a delícia de todos, apesar de ser uma dor de cabeça constante para a família que vive com ele.

Mesmo contra todas as probabilidades, ele safa-se. Desbocado e irreverente, diz tudo o que lhe vai na Alma... Mesmo que isso o ponha em perigo: vivem-se tempos agitados na Checoslováquia e nem tudo é permitido.

Espero que agarrem esta história. Vão saboreá-la longamente. Aos que fizeram esta viagem conjunta de leitura, tenho esperanças que esta escolha tenha sido do vosso agrado. Continuaremos por cá a tomar nota de excelentes livros.

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