Vede o bacharel Duarte.
Acaba de compor o mais teso e correto laço de gravata que apareceu naquele ano
de 1850, e anunciam-lhe a visita do major Lopo Alves. Notai que é de noite, e
passa de nove horas. Duarte estremeceu, e tinha duas razões para isso. A
primeira era ser o major, em qualquer ocasião, um dos mais enfadonhos sujeitos
do tempo. A segunda é que ele preparava-se justamente para ir ver, em um baile,
os mais finos cabelos loiros e os mais pensativos olhos azuis que este nosso
clima, tão avaro deles, produzira. Datava de uma semana aquele namoro. Seu
coração deixando-se prender entre duas valsas, confiou aos olhos, que eram
castanhos, uma declaração em regra, que eles pontualmente transmitiram à moça,
dez minutos antes da ceia, recebendo favorável resposta logo depois do
chocolate. Três dias depois, estava a caminho a primeira carta, e pelo jeito
que levavam as coisas não era de admirar que, antes do fim do ano, estivessem
ambos a caminho da igreja. Nestas circunstâncias, a chegada de Lopo Alves era
uma verdadeira calamidade. Velho amigo da família, companheiro de seu finado
pai no exército, tinha jus o major a todos s respeitos. Impossível despedi-lo
ou tratá-lo com frieza. Havia felizmente uma circunstância atenuante; o major
era aparentado com Cecília, a moça dos olhos azuis; em caso de necessidade, era
um voto seguro.
Sem comentários:
Enviar um comentário