domingo, 24 de março de 2013

Romance e ensaio para acabar... por agora


Aqui serei breve, apenas enumerei quatro títulos, são os que ultimamente me têm prendido mais e também os tenho usado regularmente como material de trabalho. Começo com Montaigne e “Dos Livros”, de seguida passo para uma pequena, mas gigante em profundidade, surpresa do meu amigo António Cabrita, que trocou terras lusas por Moçambique, já lá vão dez anos. Essa surpresa é um ensaio que saiu o ano passado e só foram impressos oitenta exemplares, “Respiro”. Não resisto a deixar umas linhas:

“Um dizer de Plotino exclui à priori o dualismo em que Platão atolou o mundo das ideias: “Ninguém aí (alude-se a Uno) marchará como sobre uma terra estrangeira”. Um direito de linhagem que abstrai as exclusões, o que me agrada sobremaneira, pois fui prematuramente atraído pelo clamor das contradições, tapeçaria em cujo avesso leio as complementaridades.”

Os outros títulos entrego-os a George Steiner com “O Silêncio dos Livros” e a Michel Crépu com “Esse vício Ainda Impune”, aliás este último título muito me apraz.

Seguiremos então para o Teatro. Certo é, para mim, que o teatro começa na literatura. Agora vejam que amores me dividem, palcos e livros. Um mal nunca vem só. Avanço já com três textos que são companhias de cabeceira, há já vários anos. Édipo de Sófocles, Berenice de Jean Racine e Na Solidão dos Campos de Algodão de Bernard Marie Koltés. Namoro-os há muito, talvez um dia venha a coragem ou o tempo certo de os realizar. Autores que também me marcaram e marcam desde os primeiros tempos, nesta arte de Talma são os Mestres Gil Vicente, Shakespeare e Moliére, já passei por todos. E também Brecht, Lorca e Beckett. No enlaço, aponto também grande parte do teatro Ateniense. Em tom de nota final neste item: Leiam e não deixem de o fazer, a “Floresta de Enganos” do Mestre Gil.

Vamos então romancear, quatro autores e quatro livros aos quais retorno como se fosse a primeira vez: Camilo Castelo Branco, apesar de ser para mim o Escritor Português, delicio-me com frequência nas suas “Duas horas de Leitura”, mais precisamente com a segunda parte “Do Porto a Braga”! Uma viagem atribulada de quatro amigos que, para saírem dos lares, inventaram que estão com a bicha solitária e metem-se ao caminho, para realizarem uma cura de vinhos e bacalhau até à Santa Terra do Minho. “Alegria Breve” de Vergílio Ferreira, impressionante leitura. Um verdadeiro tratado sobre a solidão e o silêncio. José Rodrigues Miguéis e a tortura da emigração em “Gente da terceira classe”. Um relato cruel. O último, talvez com alguma surpresa, até para mim, foi a paixão que fui ganhando por Simenon. Estas coisas acontecem, acreditem que é verdade, acontecem mesmo. O título que mais folheio é “Le Temps D´Anais”.

São estes alguns dos livros que me têm construído e motivado ao longo deste 39 anos de existência. Agora mesmo no final não posso deixar de lado um dos melhores trabalhos sobre a nossa literatura “História da Literatura Portuguesa” de Óscar Lopes e António José Saraiva.

Pedro Estorninho

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