domingo, 3 de março de 2013

Poema à noitinha... Eugénio de Andrade


Até Amanhã

Dir-te-ei como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado. Amanhecer de pássaros no sangue.

É finalmente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei-te de coisas que amo,
de coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.


*Eugénio de Andrade

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