sábado, 2 de março de 2013

«A Esmeralda do Rei» - o livro de Paulo Pimentel lido por Emílio Miranda

Os livros são seres estranhos, providos de vontades… Com estranhos quero dizer misteriosos nas suas intenções e propósitos. Depois de escritos, tantas vezes impondo-se também à vontade dos seus autores, traçam o próprio caminho, descobrindo quem os desvende, nem sempre com pressas – como foi o caso.

Quando comecei a ler A Esmeralda do Rei, romance histórico de Paulo Pimentel, obra que forma um inédito «conjunto literário» com A Esmeralda O Rei, de Catarina Gaspar, no género de poesia, (de que já falei em anterior ocasião – muito bem, aliás, pela excelente impressão causada) - ambas editadas pela Edições Mahatma, uma jovem editora que deixa antever na qualidade destes dois filhos literários a exigência tantas vezes arredada de outras congéneres maiores -, percebi de imediato que estava perante uma obra de raro valor, tanto pelo enredo, como pela exímia utilização da nossa língua, facto tão pouco comum em muitas das obras «apressadas» que enchem as prateleiras das nossas livrarias.

Em A Esmeralda do Rei impera a riqueza das palavras associada à riqueza da investigação histórica, de uma profundidade e rigor que não nos deixa, não pode deixar-nos, indiferentes.


É um romance histórico sublime, este que narra os amores de um dos nossos primeiros Reis por uma mulher de condição simples mas carácter e natureza invulgares. Narrada através dos olhos de Esmeralda, esta extraordinária personagem, a história avança, atravessando cerca de quatro décadas e seduzindo-nos, ao longo das suas mais de 400 páginas. Não se trata de um romance ligeiro, de cordel, mas de uma obra fabulosa que nos encanta a cada página lida e que – damos por nós a pensar - não nos exige chegarmos ao final para nos sentirmos satisfeitos com a mestria do seu autor, no manuseio das palavras. Poética, a linguagem encanta-nos, valendo cada pequeno texto por si só.

Percebe-se na leitura a paixão de quem escreve «com paixão» e estranha-se apenas que uma obra desta qualidade não alcance, como outras, maior visibilidade nos escaparates.

Se demorei tanto tempo a concluir a sua leitura, tal deveu-se apenas à forma tantas vezes intrincada com que me entrego aos livros que leio, mas, como noutros casos anteriores, a demora apenas acentuou o gosto pelas palavras, pelo enredo bem entretido, pela sublime utilização da linguagem.

Parabéns ao Paulo Pimentel de quem aguardo, ansiosamente, outras obras.

Emílio Miranda

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