sábado, 23 de fevereiro de 2013

Um livro é uma rosa, por Emílio Miranda

Foto: Cláudia Miranda


Um livro é uma rosa

I
Tenho um problema com os livros
Quero t (l) ê-los todos
Mesmo os que desconheço
Sobretudo os que desconheço

Só quando os leio
Sei que nem todos falam do que gosto
Ou dizem da forma que gosto
Mesmo o que não aprecio;
Essa, já uma maneira de gostar deles:
Dizerem de forma que aprecie
Coisas de que não gosto…

Consegues compreender isto?


II
O pó dos livros é mais inteligente 
Do que o pó dos móveis?

Se não pudesse ler
Tornar-me-ia dependente deste pó?

Como poderia consumi-lo?
Em chá?
Ou seria melhor snifá-lo?

III
Tenho o vício dos livros
Pergunto-me se também sou doente

Procuro e receio, simultaneamente, a cura…
Alivio a minha doença
Lendo!
Mas no final de cada leitura
Acho-me mais doente!

IV
Percorro livrarias e alfarrabistas
E não sei onde os livros são melhores

Se os mais velhos sabem mais
Se fico mais velho depois de lê-los.


Gosto de livros
Seja onde for
Seja onde for que os encontre.

V
Há livros perdidos
Em que nos descobrimos
Não sei se encontrá-los
É encontrar-me neles…

Todos os dias descubro que as imperfeições
Não são uma mera constatação
Mas um desafio

O livro perfeito é o que tento escrever
Dia após dia…

VI
Do primeiro livro que li
Lembro o vício
É o que lembro todos
Os dias
Em cada livro que leio…

VII

Escrevo com a língua de fora
Quando as palavras são difíceis;
E às vezes para lê-las
Tenho que as humedecer.
Isso acontece
Quando foi mais difícil escrevê-las
Esqueço-me dos sentidos
Quando são passadas para o papel…
Não sei se são os livros que são difíceis
Se sou eu.

VIII
Há livros que choram
E onde confundimos as nossas tristezas.
Há livros que riem
E onde nos perdemos
Lugares de palavras
Acesas em desejos!

IX
Há livros que nos inspiram
E escrevemos outros livros
Tudo é novo e velho
Simultaneamente…

Emílio Miranda
*Depois de ler O Livro do Ano de Afonso Cruz, num sopro... Emílio Miranda escreveu este poema - também num sopro.

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