quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Capa mole em ditadura tanto dá até que fura... (actualizado)



Daqui fica a solidariedade com a Bárbara Bulhosa. Este gesto é mais que uma defesa de uma pessoa, é um gesto pela democracia e pelo direito à liberdade de expressão. Noutro tempo e de outro modo, também os editores de hoje precisam de ter coragem. Ao editar "Diamantes de Sangue", pela Tinta-da-China, Bárbara Bulhosa constitui um exemplo vivo da coragem que se mantém indissociável do exercício como Editora.

Não estamos neste mundo só para encher as páginas de papel com tinta. Há uma maior missão que é cultural e que talha a massa de que são feitas as pessoas, as sociedades e as nações.

"Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola", que vendeu até agora cerca de sete mil exemplares, traça um retrato implacável da vida nas zonas de exploração diamantífera das Lundas, no Nordeste esquecido do país. Por isso mesmo, o assunto interessou a Bárbara Bulhosa, enquanto editora.

Para a editora, o importante, no momento de publicar o livro, foi dar a conhecer uma situação “de extrema gravidade, que não era conhecida e que estava a acontecer”. “Para mim, [a opção de publicar o livro] não tem nada a ver com Angola. Podia ser noutro país qualquer”, disse ao jornal Público. “O que me interessava era a questão dos direitos humanos e a denúncia de situações terríveis para as populações.” Considera que este é “um processo político de intimidação” e uma “pressão sobre todos os editores a quem possam chegar manuscritos sobre questões sensíveis e em que estão envolvidas pessoas com muito poder”.


Entre os queixosos estão os generais Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, ministro de Estado e chefe da casa militar da Presidência da República de Angola; António dos Santos França “Ndalu”, deputado do MPLA e presidente da empresa sul-africana de diamantes De Beers em Angola; Carlos Vaal da Silva, inspector-geral do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA); Armando Neto, governador de Benguela e ex-Chefe do Estado-Maior General das FAA; João de Matos, também ex-Chefe do Estado-Maior General das FAA.

O general Hélder Vieira Dias “Kopelipa” está actualmente a ser investigado em Portugal pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal no âmbito de um processo relacionado com alegados casos de corrupção e fugas de capitais.

Dito isto... processem-nos a todos e a todas!


[ACTUALIZADO A 11 FEVEREIRO] Fura e fura mesmo a sério. O Ministério Público acaba de anunciar o arquivamento do processo e pelas melhores razões. 

"O Ministério Público concluiu, dos elementos recolhidos nos autos, que a publicação do livro “Diamantes de Sangue” se enquadra no legítimo exercício de um direito fundamental, a liberdade de informação e de expressão, constitucionalmente protegido, que no caso concreto se sobrepõe a outros direitos. O Ministério Público concluiu pela ausência de indícios da prática de crime, atentos os elementos probatórios recolhidos e o interesse público em causa."

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