sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

As primeiras linhas da leitura do mês: «A Terra onde o tempo parou» de Bohumil Hrabal

Comecei o livro que me propus apresentar no mês de Fevereiro. Queria deixar o seu primeiro parágrafo. Mas rapidamente desisti da ideia, porque só termina virando a página e olhando para a folha seguinte.

Deixo, então, o texto corrido até ao segundo ponto final. Para deixar algumas pistas da forma como Bohumil Hrabal escreve. Espero conquistar-vos!


Quando regressava da escola eu gostava de passar pelo areeiro, onde havia batelões com areia, barcas de que saíam pranchas sobre as quais os carregadores de areia transportavam, nos carrinhos de mão, a areia molhada dos montões enormes; carregavam a areia com pás, tão levemente que parecia que apanhavam uma nuvem fluída e movediça que brilhava ao sol, porque cada grão miudinho de areia tinha as cores do arco-íris. Uma vez pedi para carregar um carrinho dessa areia que a água trouxera das montanhas e que se não fosse dragada seria com certeza levada pelo Elba até Hamburgo e depois até ao próprio mar, mas quando quis levantar a pá, pensei que esta tinha ficado presa no fundo da barca, tive que voltar a enterrar a pá no monte de areia e depois, pesadamente, devagar, como se tirasse a pá de pez ou de goma arábica, levantei a pá por cima da prancha, mas já não consegui levá-la até ao carrinho, caiu-me das mãos, e os carregadores riram-se de mim; eu olhava os seus troncos nus: cada carregador tinha os braços tatuados com âncoras e meninas.

Bohumil Hrabal
*autor em destaque este mês, no Clube de Leitores

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