domingo, 3 de fevereiro de 2013

À conversa com... Manuel Monteiro (II)


Pedro Ferreira (PF): Disse anteriormente que escreve desde os 7 anos. Anda a publicar da gaveta ou esses escritos estão arrumados e são para ficar arrumados?

Manuel Monteiro (MM):
São para ficar arrumados. Há uma frase ou outra que já tive a tentação de encaixar - mas sinto que seria servir comida requentada. Além disso, cada livro é um organismo autónomo, que dita ao escritor como e o que ser escrito, pelo que por mais coruscante que possa ser algo que escrevi no passado, inseri-lo parece-me sempre forçar a dinâmica natural de uma obra.


PF: Uma das características inovadoras da escrita presente no "O Suave e o Negro" é a forma como o narrador participante actua sobre as personagens e sobre o enredo. Surgiu naturalmente aquela forma? Sendo um risco notório, acha que foi bem sucedido e que é compreendido na sua intenção?

MM: Um grande risco. Não sei como será compreendido. Mas voltaria a fazê-lo se escrevesse novamente a obra.


PF: Considera-se uma pessoa de esquerda? No actual momento politico do país qual seria o grande mote que gostaria de passar aos seus leitores.
 
MM: Considero. Não se resignem.


PF: Portugal é um país com uma grande taxa de publicação e uma fraca taxa de leitura, muitos analfabetos e muita iliteracia. Continua a ser um bom país para escritores? Como comenta estes factos. 

MM: É extraordinariamente difícil publicar em Portugal. As editoras, regra geral, não lêem os manuscritos originais, não apostam na qualidade literária, têm medo de publicar desconhecidos. Os editores são avaliados pela facturação que conseguem, um critério frio e objectivo, não pela qualidade das obras, um critério sempre mais subjectivo. Lembra-se daquela jornalista que enviou um livro de Vergílio Ferreira para publicação fazendo-se passar por uma novata no meio e que não conseguiu publicá-lo? Os prémios literários para obras inéditas são uma forma de contrariar isto... Depois há as editoras que publicam tudo desde que o autor compre o número de exemplares que lhes garante uma margem de lucro mesmo que o livro nunca venda um exemplar. Essas editoras calculam o custo da impressão dos livros, aplica uma margem e ganham automaticamente dinheiro quando o autor assina o contrato. Não veria nenhum problema se as expectativas ante o autor fossem honestamente geridas. Não são. A distribuição e divulgação desses livros é paupérrima e depois de assinado o contrato e recebido o dinheirinho, o autor deixa de ser uma preocupação da editora.


PF: Por último gostava de lhe deixar espaço livre para acrescentar a pergunta/resposta que não lhe costumam fazer e que gostava que lhe fizessem.

MM: ESTA NÃO SEI :) VENHA MAIS UMA


É pois com este desejo de manter a conversa que encerramos por já esta entrevista. Fica a promessa de voltarmos à conversa, se possível presencial, em outras oportunidades que de certeza surgirão. Esperamos que tenham gostado e que tenha servido de motivador para a leitura do livro do mês.

1 comentário:

  1. O Manuel Monteiro tem tanta coisa para dizer que ficamos à espera de mais conversa. Foi bom o aperitivo....
    José Alberto Braga

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