Nasci nesta casa e criei-me nela. Nunca saí. Ao entardecer encosto o
corpo contra o cristal das janelas e contemplo o céu. Gosto de ver as labaredas
altas, as nuvens a galope, e sobre elas os anjos, legiões deles, sacudindo as
fagulhas dos cabelos, agitando as largas asas em chamas. É um espectáculo
sempre idêntico. Todas as tardes, porém, venho até aqui e divirto-me e
comovo-me como se o visse pela primeira vez. A semana passada Félix Ventura
chegou mais cedo e surpreendeu-me a rir enquanto lá fora, no azul revolto, uma
nuvem enorme corria em círculos, como um cão, tentando apagar o fogo que lhe
abrasava a cauda.
Sem comentários:
Enviar um comentário