segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Folhas de Erva de Walt Whitman - por Manuel Monteiro


Folhas de Erva é o livro que mais vezes releio. O livro de que sei mais excertos de cor (de coração).

Poemas que nunca me deixam cair na noite mais escura da alma quando estou em baixo.

Imagino como serias feliz se eu estivesse a teu lado e fosse teu companheiro,
Sê tão feliz como se eu estivesse contigo. (Não penses que não estou agora junto a ti.)

Poemas que me devolvem a gratidão ante a vida e o Universo e que brotam girassóis à minha volta.

Ter-se-á mostrado enciumada ou assassina
a raça humana, em relação a ti,
meu irmão, minha irmã?
Por ti lamento: não se mostra enciumada
ou assassina em relação a mim,
todos têm sido amáveis comigo,
[...]
Aurora após aurora atrás de mim
os fantasmas curvam-se
[...]
Por muito tempo, eu fui abraçado,
por muito e muito tempo.


Poemas que me tranquilizam quanto à multiplicidade de eus dentro do eu e de vidas dentro da vida.

Contradigo-me?

Muito bem, contradigo-me então

(Sou enorme, contenho multidões.)

Poemas que me serenam o ruído existencial.

Não há palavras que possam exprimir a paz que sinto em relação a Deus e à morte.

[...]

Vejo Deus em cada uma das vinte e quatro horas, em cada momento.
Nos rostos dos homens e mulheres vejo Deus, e no meu próprio rosto ao espelho.
Encontro cartas de Deus espalhadas pela rua, todas assinadas com o Seu nome,
E deixo-as onde estão, pois sei que onde quer que eu vá outras irão chegar pontualmente e sempre.

Harold Bloom escreveu que o Walt Whitman criado por Walt Whitman esmaga o super-homem Zaratustra. Jorge Luis Borges escreveu que, quando novo, Walt Whitman queria executar a impossível de tarefa de pintar uma tela que abrangesse todos os rostos humanos e que o mais incrível era que o tinha conseguido na sua poesia. O nome de Walt Whitman, para Borges, era Universo. Mas as palavras que mais bem expressam o que sinto são de Álvaro de Campos naquele que para mim é o seu melhor poema, Saudação a Walt Whitman:

Nos teus versos, a certa altura não sei se leio ou se vivo,

Não sei se o meu lugar real é no mundo ou nos teus versos

Se Deus é Amor, Walt Whitman é Deus e o Diabo dançando o Amor.

Sou o poeta dos escravos e dos senhores dos escravos

Manuel Monteiro

*Clube de Leitores COM_vida Manuel Monteiro - este mês fazemos leitura conjunta do seu livro O Suave e o Negro

1 comentário:

  1. Whitman tem a dimensão do universo, via palavra. E aqui, Manuel Monteiro é o seu profeta.
    José Alberto Braga

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