Descobri que Fernando Pessoa não morreu
Descobri que Fernando Pessoa não morreu
E continua a escrever poemas,
De pé,
Compulsivamente
Como quem tosse palavras
Ou sonha estados de espírito inexistentes
Todos os seus poemas são loucos
Desde que se tornou centenário
Todos os poemas de poetas centenários
São loucos
Mas os do Fernando são-no por natureza
Mistura cigarros e chocolates
Como se tudo fosse um vício
E a vida uma fatalidade.
Se não quiseres morrer
Inventa o absurdo
E depois faz dele o teu quotidiano.
Bebe calicezinhos de bagaço
Na esplanada de uma cidade louca
E escreve poemas com palavras inventadas.
As palavras são o alimento dos fartos.
Aos esfomeados apenas interessam as mais banais
Como pão água e um pouco de nada
Com que enganar a fome
Discursos litúrgicos são fraco alimento
E os políticos são indigestos
Fartos do absurdo
Beberriquemos poemas
De Pessoa
Que os escreveu como ninguém
E
Jaz vivo em palavras.
Emílio Miranda
Foto: Cláudia Miranda
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