domingo, 6 de janeiro de 2013

EmbORA de Ti

Portugal,
quem vai segurar
as asas do teu caixão?
Guardar-te a memória?
Cantar-te uma canção?

Portugal,
envelheceste!
A pele em rugas.
Cinza o cabelo.
Pesados os pés.
Mirrado o corpo.
Pareces pele e osso, Portugal.
Pele de açafrão.
Osso de betão.
E eras tão verde e tão azul,
a correr pela praia da minha infância.

Ficaste amargo.
Amargurado?

Aqui entre nós,
era expectável!
Nunca foste dado a grandes alegrias.
Mas, porém, todavia, contudo.
Na tua tristeza, parecias feliz.
E o tempo passava.

Alado.
Como se fado!

Portugal,
afinal,
faltam-te poetas!
E arquitectos,
agricultores,
pescadores,
sonhadores
e outros doutores,
mas, principalmente,
Senhores,
em geral,
e em particular!

Paralelamente,
paralelo da calçada,
portuguesa, com certeza!
Sobram-te vendedores,
dos que vendem bandeiras e bandeirinhas,
mães, tias e sobrinhas.

E sombrinhas!
Que o mesmo é dizer guarda-chuvas.
É pró menino e prá menina,
Faça chuva ou faça sol.
Cantam como um rouxinol!

E como vai o negócio?

O negócio vai mal!
Era preciso sol na eira
e chuva no nabal!

Portugal,
Olha, também eu cresci!

Envelheci!

Já podemos falar os dois.
Já não sou menina.
Já percebo das coisas.
E, quando não percebo, pergunto.
Assim que diz-me,
como, sem o amparo da inocência,
podem os meus olhos olhar para ti?

Agora que em coro instigam e trovam:
Que desista!
Que te deixe!
Que deste mar não sai peixe!
Que não me mereces!
Que melhor desdém!
Que nem mais um vintém!

Desgraçado que me desgraças,
dizem a tia e a avó,
como se corvos na praça!

O problema.
Há sempre um problema!
O problema português. Será?
É o tamanho da saudade!
Não há mala, malinha ou maleta onde a guarde!

Portugal,
o meu nome é Raquel,
o meu nome é Pedro, é Joana,
é Renato, é Miguel,
e vou-me embora,
Brasil, Angola, Macau, Moçambique,
embora de ti.
Vai dando notícias,
e tem cuidado
com os caminhos que escolhes,
com os escolhos,
com as lágrimas nos meus olhos.
Vê bem onde pões os pés
não vás pisar mais uma vez meu coração.

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