segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

À conversa com... Manuel Monteiro (I)


Pedro Ferreira (PF): Como encara os prémios que tem ganho? Ou seja, a abordagem funciona como um incentivo para continuar a escrever ou mais como reconhecimento de um trabalho já feito?

Manuel Monteiro (MM): Desde os sete anos que escrevo. O importante não é publicar, mas escrever. Durante muito tempo, tentei publicar e não consegui. Hoje, sinto-me grato por isso ter acontecido. Permitiu-me ir aprimorando a obra, revendo, acrescentando, modificando, rasurando, rasurando, escutando o que o texto e as personagens tinham para me dizer. Mas não nego que 2012 foi um trevo de quatro folhas literário com os Novos Talentos FNAC 2012, "O Suave e o Negro" publicado pela Quidnovi, as múltiplas solicitações que daí surgiram...

PF: Num percurso ligado às letras e aos livros como surge a ideia de escrever este livro? Foi uma ideia martelada várias vezes ou surgiu de um ímpeto e daí o trabalho de escrita?

MM: Quando publiquei "demanda ou a cor nunca vista" em 2008, já estava a escrever este livro que só foi terminado em 2012. O processo de reescrita, pelo menos para mim, é longo, muito longo. Sou capaz de reescrever um capítulo cinquenta vezes. Não exagero no número.

PF: Dos dois personagens principais há marca biográficas do Manuel? Na sua juventude foi um bocadinho de algum daqueles dois ou um deles.

MM: Tento evadir-me da resposta, considero que um escritor escreve com os braços da memória e da imaginação.

PF: A forma como retrata o cenário politico envolvente marca uma época de Portugal. Acha que apesar dessa marca esses cenários continuam actuais?

MM: A forma como a personagem Alexandre retrata, diria. O tempo encarrega-se sempre de depurar o que permanece sem rugas e o que fica datado. Não fugindo novamente à resposta: sim. Em certos sectores, sim.

PF: Se estivesse a escrever o livro agora mantinha a época e as características dos personagens ou alterava alguma coisa?

MM: Eu acabei de escrever o livro há meses. Não alteraria, mas não sei como responderei daqui a uns anos. Sei que fui honesto comigo próprio.

PF: O Alexandre pode ser interpretado como uma personagem-tipo? É mais que uma pessoa e representa o povo português?

MM: Não tive intenção de representar nenhum traço típico da portugalidade. A personagem apareceu-me, falou comigo, manifestou-se-me. Quem escreve percebe o que é isto. O escritor muitas vezes sente-se como mero mensageiro das suas personagens.

PF: O último capitulo "Dispersos" funciona como uma espécie de compilação de máximas. Qual é a grande intenção ao colocar aquele conjunto no fim do livro? São avisos aos leitores? Há algum moralismo envolto nas frases? São máximas que não conseguiu encaixar no texto? A atribui-las no texto seriam distribuídas a que personagens?

MM: São frases do Alexandre que, sim, é eticista (não diria «moralista» à luz da definição de «moral» e «ética» de Peter Singer), e que o autor entendeu que não deveriam ser parte integrante do livro. Repare-se que até o formato da letra dos últimos dois capítulos é diferente. O livro tem uma personagem-narrador e tem um autor - e ambos discutem no livro. Quanto a esses dois capítulos, o autor decidiu não os incluir e o Alexandre ficou a falar sozinho após o fim do livro.

1 comentário:

  1. Achei muito interessante a entrevista. Principalmente pelo facto do escritor Manuel Monteiro ter começado a escrever tão novo (eu também comecei cedo, aos 9 anos). Não conhecia o Autor e fiquei bastante curiosa acerca dos livros que que trata a entrevista. Vou procurar saber mais, sem dúvida!
    Obrigada pelos excelentes artigos aqui publicados.
    Sou uma leitora assídua do blogue.

    Jovita Capitão.

    http://www.rainhadasinsonias.blogspot.pt/

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