O beneditino passou um espanador de penas multicolores pelo exterior do
livro; soprou, depois de encher a bochechas, arredondando-as, como o deus do
vento nas cartas náuticas, o pó negro que o cobria; abriu-o por fim, com uma
relutância que, dadas as circunstâncias, parecia delicadeza, tremor. Graças à
luz que se derramava oblíqua entrando pela janela, os caracteres ganharam
relevo nas páginas cor de areia: um grotesco carreiro de formigas negras,
nítido e seco. Sua Excelência Abdallah Mohamed ben Olman inclinou-se observando
aqueles signos; os seus olhos habitualmente cansados, distantes e aborrecidos
tinham-se tornado vivos e perspicazes. Voltou a endireitar-se após um momento,
procurando com a mão direita na veste: e extraiu umas lunetas com armação de
ouro e pedras verdes, imitando uma fina grinalda de flores ou frutos.
* Tradução de
Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira
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