segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

1º Parágrafo: Confundir a Cidade com o Mar


ESTAVA A VER UMAS REVISTAS na Biblioteca Pública de S. Francisco umas semanas atrás, e deparei com o comentário de um autor que dizia que todos os seus contos eram sobre um inocente incapaz de agir perante uma situação traumática. Na minha memória, vi um rapaz de sete anos, de franja loira e comprida. Estava gelado, de pé, diante de um homem magro metido num pijama azul e sentado numa cama de hospital. O homem tinha o rosto encovado e olhos tristes. As suas mãos esqueléticas saíam dos pulsos envoltos em gazes e ligaduras.


* Tradução de Daniela Carvalhal Garcia

1 comentário:

  1. António Tété Pereira15 de janeiro de 2013 às 12:00

    É um primeiro parágrafo prometedor; ignoro, por que não conheço a obra, se o livro é auto-biográfico...contudo, aquela criança, incapaz de reagir, perante uma situação traumática, faz apelo às memórias de cada um numa fase da vida, em que começamos a compreender, que viemos para um mundo estranho, injusto e doloroso.
    Não sei qual a relação deste primeiro parágrafo com o título do livro, mas, à partida, confundir a cidade com o mar, mesmo simbólica ou metafóricamente falando, é, na verdade, consequência traumática, que leva à fuga do real, procurando uma alternativa, que suporte a dureza dos traumas da infância e dos que, a esta, se lhe seguiram.

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