Entro em casa, um frio parado silencioso, que dá vontade de dormir. Arranjo
o capão com sal e pimenta ponho-o no forno com as batatas, é uma fonte de
calor. Na cozinha chega até mim o som do rádio de uma casa em frente. Na rua
Santa Maria della Neve uma mendiga idosa saiu à rua e lançou ao ar todas as
moedas das esmolas, juntou-se uma multidão, as forças da ordem intervieram. Liquefez-se
o sangue de Santo André Avellino. Fora de Nápoles, na América, um jovem foi
eleito presidente. Os russos lançaram um cão num foguetão, os americanos, por
sua vez lançaram um macaco. Apago a luz, olho para fora. É Natal, quartos
iluminados, as famílias sentam-se à mesa. Na minha há lugar para o bumerangue,
para o capão e para Maria, com os biscoitos. No ano passado nem sonhava pedir
isto, aconteceu por si só, sem um desejo. O corpo crescido, a boca de Maria, as
asas de Rafaniello, quanta abundância chegou sem eu pedir, fora do Natal. Com a
luz apagada, algumas carícias de espíritos perpassam-me pela nuca, no escuro
movimentam-se melhor. Aproveito o candeeiro da rua para escrever encostado ao
parapeito da janela, o ruído do lápis no papel faz o resumo do barulho do dia.
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