segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Nuno Camarneiro - Prémio Leya 2012

Nuno Camarneiro passou pelo blogue Clube de Leitores com o seu livro «No meu peito não cabem pássaros» - foi leitura conjunta em Agosto/2011. 

Aquele mês calhou à Raquel Serejo Martins. E ela sublinhou o 1.º Parágrafo como factor que pesou na sua escolha.

“ – São quatro segundos, caro amigo, quatro segundos de aflição que não dão para um pai-nosso. O amigo experimente, pai-nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como PAM!, quatro segundos e o corpo despedaçado contra o cimento, pense bem no que há-de pedir ao altíssimo, mas que seja em menos de quatro segundos.”

Recordo-me de considerar a sua leitura interessante, para um primeiro romance. Sobretudo por algumas tiradas. Como esta que aqui deixo:

"Uma outra vida à espera no cais. Tias engalanadas em lenços de seda e luva brancas como mãos de porcelana. Vamos lá ser menino com um sorriso que é de cara e não é de mais nada. A viagem chegou ao fim e Lisboa é o fim do mar.

Junto às tias e a esta terra, tudo volta a ser pequenino. O sufixo parece ser anterior às palavras, o menino está cansadinho, a viagem foi boazinha, está tão branquinho, coitadinho. Portugal é assim, diminutivo e manso. O que foi chegando fez-se à escala e por cá ficou, as Indiazinhas, as Americazinhas, os pretitos, pobrezinhos. Os portugueses não querem nada que não possam meter no bolso. Como é que esta gente descobriu tanto mundo?"


ilustração de Paulo Freixinho

Quanto à notícia, deixo apenas o essencial - sublinhado aqui pela notícia do Jornal Público:

«O júri "apreciou no romance Debaixo de Algum Céu a qualidade literária com que, delimitando intensivamente a figura fulcral do 'romance de espaço' e do 'romance urbano', faz de um prédio de apartamentos à beira-mar o tecido conjuntivo da vida quotidiana de várias personagens - saídas da gente comum da nossa actualidade, mas também por isso carregadas de potencial significativo".

O romance, continua o júri, que é um "retrato de uma microsociedade unida pelo espaço em que vivem os personagens", organiza-se a partir de um conjunto de vozes que dão conta de vidas e destinos que o acaso cruzou num período de tempo delimitado entre um Natal e um Fim do Ano".

Manuel Alegre telefonou ao vencedor esta manhã. "Estou num estado de euforia: o meu objectivo para hoje é tentar não ter um ataque cardíaco", disse ao PÚBLICO, Nuno Camarneiro, que concorreu ao prémio com aquele que é o seu segundo romance mas não o escreveu a pensar no prémio. "Só decidi concorrer ao prémio depois de o ter escrito", confessou o autor.

Este livro é, para Nuno Camarneiro, "uma exploração da ideia de purgatório": "Quase todo passado dentro de um prédio e em oito dias, entre o Natal e o Ano Novo, e cada inquilino atravessa durante esse período o seu purgatório pessoal", explica.»

2 comentários:

  1. Olá,

    Gosto da escrita do Nuno Camarneiro, gosto tanto que criei a imagem em grelha de Palavras Cruzadas que ilustra este post... ;-)...

    Amplexos e ósculos!...

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  2. Vou já tratar de colocar isso na legenda, Paulo. :-D
    Entretanto, gostava de lhe enviar um mail. Para onde posso fazê-lo?
    Ósculos literários!

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