quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Nas minhas fotografias cabem palavras



Lentamente aproximo o fósforo em chama da fotografia. Sei que a chama não aguenta muito mais tempo mas também sei que a fotografia arderá rapidamente. Deito fogo aos sorrisos, aos sonhos, às vidas futuras contidas naqueles olhares. É como se queimasse pessoas numa fogueira que as fizesse desaparecer para sempre.

Renego as imagens. Renego as palavras. Finalmente, o silêncio. Finalmente, a noite. O profundo vazio que substitui a mágoa. Sinto que te aproximas de mim. Imagino o que pensarás ao ver-me ali naquelas figuras. E é a tua mão na minha coluna, a vergar-me o corpo cansado. Dizes-me: não ouses jamais sonhar, não finjas que perdeste a visão, não digas nunca mais. Não ouses.

O peso dessa mão é o peso de um caminho. Hoje é a noite dos sonhos. Das lembranças que não criámos, as fotografias que não existem guardadas no álbum antigo e poeirento. Afinal, diz-me o silêncio, nunca foste um passado. Finjo que acredito que fico melhor sem o teu sorriso.
Sem poder desenhar o contorno do teu rosto com os dedos.

Chegou a minha noite. Chegou o branco à folha de papel preenchida.
Até amanhã.


Foto e Texto: Pedro Ferreira

1 comentário:

  1. Sempre palavras tão bonitas Pedro, deixas uma pessoa aqui toda derretida! *

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