domingo, 2 de dezembro de 2012

Deixo a capital, rumo a norte... Com este poema de António Maria (Lisboa)

«Nasceu em Lisboa no dia 1 de agosto de 1928 e frequentou o Ensino Técnico.

Amigo de Mário Cesariny, com ele escreveu "Afixação Proibida", um importante manifesto do surrealismo português que inicia este movimento em Portugal.

Apesar de inserida no surrealismo, a obra de António Maria Lisboa caracteriza-se por uma faceta ocultista e esotérica que a torna muito particular.

Morreu de tuberculose com apenas 25 anos, mas a sua obra não deixa de ser um marco na literatura portuguesa. Durante a sua curta vida, António Maria Lisboa acreditou sempre no Surrealismo como liberdade e poesia totais, como se pode depreender da sua escrita.»

E escreve assim...


Vírgula

«Eu menino às onze horas e trinta minutos
a procurar o dia em que não te fale
feito de resistências e ameaças — Este mundo
compreende tanto no meio em que vive
tanto no que devemos pensar.

A experiência o contrário da raiz originária aliás
demasiado formal para que se possa acreditar
no mais rigoroso sentido da palavra.

Tanta metafísica eu e tu
que já não acreditamos como antes
diferentes daquilo que entendem os filósofos
— constitui uma realidade
que não consegue dominar (nem ele próprio)
as forças primitivas
quando já se tem pretendido ordens à vida humana
em conflito com outras surge agora
a necessidade dos Oásis Perdidos.

E vistas assim as coisas fragmentariamente é certo
e a custo na imensidão da desordem
a que terão de ser constantemente arrancadas
— são da máxima importância as Velhas Concepções pois
a cada momento corremos grandes riscos
desconcertantes e de sinistra estranheza.

Resulta isto dum olhar rápido sobre a cidade desconhecida.
E abstraindo dos versos que neste poema se referem ao mundo humano
vemos que ninguém até hoje se apossou do homem
como o frágil véu que nos separa vedados e proibidos.»

*António Maria Lisboa, in "Ossóptico e Outros Poemas"

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