sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

1º Parágrafo: Autópsia de Um Mar de Ruínas


Quem vem lá?, bradou ele do alto do posto, de súbito enregelado e com um calafrio na voz, ao escutar os passos que chapinhavam do lado de lá da morte. Vira-o apenas de fugida, passar, encobrir-se, ficar como que atento e em suspensão, ir-se finalmente como vento, e deixou de vê-lo. Pensou que voara, alando-se ou apenas se extinguindo num espaço impreciso, entre a noite e uma sebe de canas de bambu que ali havia. Ainda assim, apontou-lhe a arma mas às cegas. Não um corpo em sua concreta forma definida, pensou, mas a breve sombra de um vulto sem corpo e sem cabeça – ou com ela estranhamente suspensa e degolada, que é como todas as sombras se movem nas noites furtivas da guerra. Logo a seguir, reapareceu a flutuar à sua frente, iluminando-se em contraste com a penumbra, um anjo perdido da guerrilha: como se se tivesse posto de novo em levitação.


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