O
QUE PASSA DE UMA COISA PARA OUTRA
Estandartes em papel de seda
das festas gualterianas, ex-votos, desenhos de Teixeira de Pascoaes, esculturas
africanas, telas, caixas, relicários, néons, instalações, arcos festivos,
bonecos em papel de seda, máscaras, luxuriantes paramentos, filmes,
fotografias, ex-votos ingénuos ou tétricos, estátuas de santos, desenhos,
letras, é de tudo isso feita a maravilhosa exposição PARA ALÉM DA HISTÓRIA que,
a partir da colecção de arte tribal africana de JOSÉ DE GUIMARÃES irradia no
Centro Internacional das Artes que leva o nome do artista na Capital que agora
é lá em cima, no Minho. Organizada pelo Nuno Faria em colaboração próxima com o
artista (aqui também coleccionador), esta é uma exposição-farol. Ao sair para a
rua, depois das 13 esplendorosas salas, ficamos a perguntar-nos de novo,
extasiados: onde começa a arte, onde acaba a festa, para onde vai a religião, o
que é a íntima meditação? E ficamos com uma certeza: JOSÉ DE GUIMARÃES não é
aquilo que sabíamos até agora, artista que reconhecíamos de longe e de logos.
Esta visita revela-nos uma outra intimidade, esta colecção de arte africana
(única, a meu ver, tal a intensidade das peças) é um caderno de íntimos
pensamentos, a verdadeira oficina. E que irradia para a frente, para o lado: a
presença absoluta do humano na vontade incessante de se apropriar da matéria,
ingénua ou sabiamente, tradicional ou inovadoramente, o humano. Como foi
possível montar esta exposição, conseguir esta ideia, teimar por ela, conseguir
realizá-la, poder mostrá-la neste triste Portugal de todas as resignações, não
sei. Sei que nada será como dantes nem naquela cidade, nem no nosso contacto
com os limites da arte. Que isto se passe ali, no seu Minho, é coisa que me
espanta. E lá vou eu ter que voltar.
(imagem da exposição PARA ALÉM DA
HISTÓRIA
actualmente patente no Centro Internacional das Artes José de
Guimarães)
Jorge Silva Melo
(Convidado do Clube de Leitores)
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