quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Clube de Leitores COM_vida: Jorge Silva Melo


O QUE PASSA DE UMA COISA PARA OUTRA

Estandartes em papel de seda das festas gualterianas, ex-votos, desenhos de Teixeira de Pascoaes, esculturas africanas, telas, caixas, relicários, néons, instalações, arcos festivos, bonecos em papel de seda, máscaras, luxuriantes paramentos, filmes, fotografias, ex-votos ingénuos ou tétricos, estátuas de santos, desenhos, letras, é de tudo isso feita a maravilhosa exposição PARA ALÉM DA HISTÓRIA que, a partir da colecção de arte tribal africana de JOSÉ DE GUIMARÃES irradia no Centro Internacional das Artes que leva o nome do artista na Capital que agora é lá em cima, no Minho. Organizada pelo Nuno Faria em colaboração próxima com o artista (aqui também coleccionador), esta é uma exposição-farol. Ao sair para a rua, depois das 13 esplendorosas salas, ficamos a perguntar-nos de novo, extasiados: onde começa a arte, onde acaba a festa, para onde vai a religião, o que é a íntima meditação? E ficamos com uma certeza: JOSÉ DE GUIMARÃES não é aquilo que sabíamos até agora, artista que reconhecíamos de longe e de logos. Esta visita revela-nos uma outra intimidade, esta colecção de arte africana (única, a meu ver, tal a intensidade das peças) é um caderno de íntimos pensamentos, a verdadeira oficina. E que irradia para a frente, para o lado: a presença absoluta do humano na vontade incessante de se apropriar da matéria, ingénua ou sabiamente, tradicional ou inovadoramente, o humano. Como foi possível montar esta exposição, conseguir esta ideia, teimar por ela, conseguir realizá-la, poder mostrá-la neste triste Portugal de todas as resignações, não sei. Sei que nada será como dantes nem naquela cidade, nem no nosso contacto com os limites da arte. Que isto se passe ali, no seu Minho, é coisa que me espanta. E lá vou eu ter que voltar.

(imagem da exposição PARA ALÉM DA HISTÓRIA
actualmente patente no Centro Internacional das Artes José de Guimarães)

Jorge Silva Melo
(Convidado do Clube de Leitores)

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