No dia em que Rafael Leocádio se apaixonou, teve um sonho premonitório.
Eram três da manhã quando acordou, atordoado por um sobressalto súbito. O primeiro
gesto que fés e foi deitar a mão à espingarda, que descansava encostada à
divisória gradeada do estábulo, com a coronha enterrada na palha seca onde se
deitara. Com a estafa da longa jornada, que já ia em cinco dias, aquelas poucas
horas de descanso, que o brigadeiro José de Sousa Reis autorizara à guerrilha,
tinham passado numa fracção de segundos. A mesma fracção de segundos que o
levou a armar o cão bacamarte, que fora de seu pai e, antes dele, de seu avô, o
coronel Ramiro Leocádio.
* E.S. Tagino é
o pseudónimo de António José da Costa Neves.
* Este livro
ganhou o prémio Poesia e Ficção de Almada de 2008.
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