quinta-feira, 22 de novembro de 2012

1º Parágrafo: Estação


O riso alarve é imediatamente muito forte, por ser colectivo e militante. Se penso em Cidre, é como se alguém pusesse a funcionar um gira-discos de tasquinha modernaça: um som estridente vem devorar-me os horizontes, o coro de gargalhadas ferozes, que hoje ainda me aterra mais do que me aterrava quando agredia directamente os meus ouvidos e os meus nervos, e a imagem de Cidre se avolumava num progressivo insulto ao que de legitimamente sensível há em mim. Assim, como o recordo o escrevo. E o meu direito existe, porque não pouparei ninguém.


* Primeira edição: Assírio & Alvim, 1984

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