sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Clube de Leitores COM_vida... Emílio Miranda. Hoje com o seu livro «O Livro dos Mosquetes»

À primeira vista (e quiçá à segunda e à terceira) poderá parecer um oportunismo da minha parte aproveitar este espaço para falar de uma obra da minha autoria.

Mas que grandessíssimo oportunista saí!

Pois bem, mais do que falar do livro propriamente dito, de que evito tecer comentários (aí sim seria considerado mais do que um oportunista; um vaidoso), falarei do que representaram os factos aqui descritos na história do Mundo, sem esquecer a de Portugal e a do Japão, obviamente, bem como o que representou para mim escrever este livro, que motivações e dificuldades me assaltaram durante cerca de um ano.

Como é sabido, pelo menos do que é hoje possível comprovar, os portugueses foram os primeiros ocidentais a pisarem terras do Japão. O facto histórico ocorreu a Sul do Arquipélago, na ilha de Tanegashima, onde terão aportado no distante dia 23 de Fevereiro de 1543. Tratar-se-ia de comerciantes acompanhados por mercadores e marujos chineses, conhecedores do povo e da língua, e deste modo preciosos auxiliares daqueles nossos conterrâneos, a mãos com a dificuldade de entenderem e se fazerem entender.


O fascínio pelo Japão Feudal surgiu com Xogum, primeiro através da visualização da série televisiva protagonizada pelo ator Richard Chamberlain, e logo de seguida pela leitura deliciada dos dois grossos volumes da autoria de James Clavell, rapidamente transformados em Best-Seller, nos quais se baseava precisamente a adaptação televisiva.

A estes seguiram-se Shibumi, de Trevanian, Ninja, de Eric Lustbader, O Samurai de Shuzaku Endo, entre inúmeras outras obras tendo como pano de fundo o Japão, a sua cultura, filosofia e peculiar modo de vida. Um povo disciplinado, estóico, capaz de superar as mais árduas adversidades, baseando-se sempre no princípio fundamental de viver para servir e morrer com honra.

Durante anos este fascínio foi assim alimentado até que em 2002 me cruzei com A Catedral do Junco, de Jacques Keriguy, livro que relatava os primeiros contactos dos Jesuítas com o País do Sol Nascente.

Foi precisamente ao ler a Nota, constante do final do livro, que me deparei pela primeira vez com a expressão Teppô-Ki – O Livro dos Mosquetes. Teppô-Ki era o título de um escrito da autoria de um monge budista, elaborado anos depois da chegada dos portugueses e significa precisamente A Crónica da Espingarda ou O Livro dos Mosquetes (tipo rudimentar de espingarda da época – Séc. XVI).


A ideia de escrever sobre o Japão, tantas vezes alimentada e, por receio, colocada imediatamente de lado, foi insuflada por uma espécie de inspiração instantânea, e a primeira frase que inicia a história foi escrita num ápice.

Porém, o que pretendia ser um pequeno conto transformou-se rapidamente numa história elaborada, de sinuosos contornos que ao longo de mais de um ano veio a transformar-se no primeiro esboço de romance que depois ficou adormecido, precisamente até à conclusão de A Princesa do Corgo, em 2008. Retomado, revisto vezes sucessivas, acabou na história de três portugueses que, após naufragarem na ilha de Tanegashima, a sul do arquipélago do Japão, desencadeiam uma autêntica revolução na cultura e nos ancestrais costumes japoneses de fazerem a guerra.

Atualmente, ainda é celebrada a chegada dos portugueses ao Japão, numa cerimónia que pode ser traduzida por Festival do Mosquete e que tem lugar precisamente a sul de Tanegashima, todos os 23 de Setembro.


Emílio Miranda


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