quarta-feira, 31 de outubro de 2012

a-ver-livros: voos com Yoko Tanji

Pediram-me um pássaro 
e os olhos encheram-se-me de penas
e de páginas
e de pensamentos que podiam
vir dentro de um livro

Abri as asas 
e pousei aqui.

* para saber mais sobre o trabalho da ilustradora japonesa Yoko Tanji
é seguir o link tanji.jp/blog/

2 comentários:

  1. NÓS, PASSARINHO


    No Clube Português do Ingá
    voam bem-te-vis e sabiás
    andorinhas e pardais
    e também um passarinho
    cujo nome desconhecemos.
    Sempre que ele canta
    Dante e eu nos olhamos
    que ele é de todos nosso preferido.
    Como descrever canto de pássaro
    (cujo nome desconhecemos)?
    É um trinar que a si próprio repete
    é canto que a si mesmo ecoa
    bolinha de borracha quicando
    no vácuo do infinito
    gotinhas descalças pingando
    um piazinho tonto
    sete sílabas se estalando.
    Tantas vezes pensei perguntar
    ao porteiro ao presidente
    ao faxineiro ao garçom
    ao salva-vidas ao gerente
    pela graça de tal pássaro
    cujo nome desconhecemos.
    Mas como perguntar por graça de pássaro
    sem sofrer dos homens a irrisão
    os remoques o desprezo?
    Este mundo enfastiado
    que já não crê nos bichos.
    O pássaro nunca falha
    haverá de cantar ao menos uma vez
    no cristal desta manhã.
    É ele cantar e
    uma fagulha ecoar nas pupilas do Dante
    uma faiscar em seus olhos meninos
    a procurar os meus.
    Como explicar tal fagulha tal faísca,
    traduzir em palavras o secreto léxico
    de pai e filho que amam
    um pássaro?

    Cujo nome desconhecemos.


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