quarta-feira, 24 de outubro de 2012

1º Parágrafo: O General no seu Labirinto


José Palacios, o seu servidor mais antigo, encontrou-o a flutuar nas águas depurativas da banheira, nu e com os olhos abertos, e julgou que se tinha afogado. Sabia que aquela era uma das suas muitas formas de meditas, mas o estado de êxtase em que jazia à deriva parecia o de alguém que já não era deste mundo. Não se atreveu a aproximar-se, mas chamou-o em voz baixa de acordo com a ordem de o acordar antes das cinco horas para viajar com as primeiras luzes. Os general emergiu do encantamento, e viu na penumbra os olhos azuis e diáfanos, o cabelo encrespado cor de esquilo, a majestade impávida do seu mordomo de todos os dias segurando na mão a xícara com a infusão de papoilas com goma. O general agarrou-se em forças às pegas da banheira, e surgiu das águas medicinais com um ímpeto de golfinho que não era de esperar num corpo tão enfezado.



* Tradução de Cristina Rodriguez

Sem comentários:

Enviar um comentário