O noivo aproximou-se-lhe da boca, a princípio encontrou os dentes, mas
logo ela parou de rir e as línguas se tocaram diante do fotógrafo. Foi aí que o
cortejo sofreu um estremecimento de gáudio e furor, como se qualquer
desconfiança de que a Terra pudesse ter deixado de ser fecundada se
desvanecesse. Já não estavam junto de nenhum altar, mas no terraço do Stella
Maris cujas janelas abriam ao Índico. No terraço, obviamente, não havia
janelas, apenas pilares sobre os quais se estendia uma cobertura suave mas
suficientemente protectora para se poder receber um cortejo daquela importância
e quantidade. O fotógrafo subiu a cadeiras e desceu até ao chão, de modo a
ficar completamente estendido para apanhar o beijo em todas as posições. Por
isso, o noivo continuava com os olhos fechados, e ela só de vez em quando abria
os seus, e o cortejo aplaudia incessantemente como no final duma ária subtil
que certamente não se ouvirá jamais. Pressuroso, o fotógrafo pediu que o noivo
tomasse a noiva nos seus braços e a levantasse à altura do peito, junto da
vedação que impedia que as pessoas, uma vez debruçadas, caíssem ao Índico. Era
majestoso. Ela obedeceu – encostou a cabeça ao ombro do noivo, e o noivo olhou
ternamente para o rosto dela. Descidos e lânguidos, os olhos dele tinham alguma
coisa líquida de peixe quando abriam e fechavam. Ainda aí o cortejo batia
palmas, e havia quem transpirasse e tivesse as mãos enrubescidas de tanto
aplaudir. Aquele era um momento cheio de encanto.
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