Da porta do La Crónica,
Santiago contempla a Avenica Tacna, sem amor: automóveis, edifícios desiguais e
desbotados, esqueletos de anúncios luminosos a flutuar na neblina, o meio-dia
cinzento. Em que altura se tinha fodido o Peru? Os ardinas vagueiam entre os
veículos pelo semáforo da Wilson, apregoando os jornais da tarde, e ele começa
a andar, devagar, em direcção à Colmena. De mãos nos bolsos, cabisbaixo, é
escoltado por transeuntes que se dirigem também, à Plaza San Martín. Ele era
como o Peru, Zavalita, a certa altura, tinha-se fodido. Pensa: em que altura?
De fronte do Hotel Grillón, um cão vem lamber-lhe os pés: põe-te a mexer, não
vás estar raivoso. O Peru fodido, pensa, Carlitos fodido, todos fodidos. Pensa:
não há solução. Vê uma enorme bicha na paragem dos colectivos para Miraflores,
atravessa a praça e lá está Norwin, olá amigo, numa mesa do Bar Zela, senta-te
Zavalita, segurando um pisco com ginger ale, engraxando os sapatos, a
oferecer-lhe uma bebida. Não parece bêbado por enquanto e Santiago senta-se,
faz sinal ao engraxador para lhe engraxar também os sapatos. Pronto, chefe,
deixar-lhos-ia a brilhar como um espelho, chefe.
* Tradução de
José Teixeira de Aguilar
* Mário
Vargas Llosa foi, em 1990, candidato à Presidência da República do Peru, tendo
perdido as eleições para Alberto Fujimori
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