quarta-feira, 12 de setembro de 2012

«O testículo» (sim, leram bem) - num livro de Philip Roth

Estou a ler «O Complexo de Portnoy» (é o livro que deixo no carro para as "emergências") e a achar hilariante o monólogo da personagem principal. Vejam bem porquê:

"A dado momento do meu nono ano de idade um dos meus testículos resolveu, aparentemente, que estava farto de viver no escroto e iniciou a sua deriva para norte. A princípio eu sentia-o saltitar, ainda hesitante, no rebordo da bacia - e depois, como se tivesse passado o momento de hesitação, a entrar na cavidade do meu corpo, como um náufrago içado das águas do mar para dentro do casco de um salva-vidas. E aí se aninhou, finalmente seguro, atrás da fortaleza dos meus ossos, deixando o seu companheiro temerário arriscar-se sozinho nesse mundo de rapazes, feito de chuteiras de futebol e paus de cerca pontiagudos, de pedras, paus e canivetes, de todos esses perigos que punham a minha mãe doente de apreensão, e contra os quais fui avisado e mais do que avisado. E tornado a avisar. E avisado outra vez. E outra vez.

E outra vez.

Portanto, o meu testículo esquerdo foi morar nas imediações do canal inguinal. Carregando com o dedo na dobra entre a púbis e a coxa, ainda conseguia, nas primeiras semanas do seu desaparecimento, sentir a curva da bola gelatinosa; mas vieram depois noites de terror, em que sondei em vão as minhas entranhas, procurei até cá acima, à caixa torácica - mas para minha desgraça o viajante partira rumo a paragens inexploradas e desconhecidas. Para onde teria ido? Até onde, até quando continuaria a viagem? Não correria o risco de abrir um dia a boca para falar na aula e de descobrir o meu tomate esquerdo na ponta da língua? Na escola cantávamos, com a nossa professora, Sou Senhor do meu destino, sou o Capitão da minha alma, e, entretanto, dentro do meu próprio corpo, uma das minhas partes pudendas lançara uma insurreição anárquica - que eu não conseguia dominar!" 

1 comentário:

  1. A 1ª edição nos EUA data de 1969 e o meu pai comprou-o lá um ano depois. No entanto decidi adquirir uma tradução portuguesa de bolso da Leya.
    Tinha uma expectativas altas, pois ouvi falarem muito bem do livro, mas rapidamente fiquei defraudado.
    Embora com algumas passagens interessantes, mas não achei grande piada, a linguagem utilizada é básica, sem grandes motivos para me prender à história.
    Não dei o tempo como perdido mas esperava muito mais. Acredito que a data e as circunstancias em que foi lançado poderá ter sido um dos factores para o sucesso. Vou citar frases que sublinhei, porque as mais interessantes que encontrei podem ferir susceptibilidades...

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