quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Livro do mês: sobre o autor, Kazuo Ishiguro

Ainda não é hoje que começo a entrar livro dentro. De "Nunca Me Deixes", a obra que escolhi para lermos em Setembro, deixo-vos por enquanto apenas a contracapa.

"Kathy, Ruth e Tommy cresceram em Hallsham - um colégio interno idílico situado algures na província inglesa. Foram educados com esmero, cuidadosamente protegidos do mundo exterior e levados a crer que eram especiais. Mas o que os espera para além dos muros de Hallsham? 
Só vários anos mais tarde, Kathy, agora uma jovem mulher de 31 anos, se permite ceder aos apelos da memória. O que se segue é a perturbadora história de como Kathy, Ruth e Tommy enfrentam aos poucos a verdade sobre uma infância aparentemente feliz - e sobre o futuro que lhes está destinado."

Não, não é uma versão adulta do "Colégio das Quatro Torres" ou de "As Gémeas no Colégio de Santa Clara", longe disso. E por uma vez uma contracapa não se põe em bicos de pés, diz apenas como é: "Um romance profundamente comovedor, atravessado por uma percepção singular da fragilidade da vida humana".

Faço convosco o mesmo percurso que fiz quando, cativada por esta contracapa, comprei o livro e o trouxe para casa: fui tentar perceber quem é o autor.

Kazuo Ishiguro nasceu em 1954 na cidade japonesa de Nagasaki - fundada por navegadores portugueses na segunda metade do século XVI e a tentar então reerguer-se da destruição quase total causada nove anos antes pela segunda bomba atómica lançada pelos Estados Unidos.

A preparar-se para fazer 58 anos em Novembro, o pequeno Kazuo tinha apenas 5 quando os pais mudaram a família para Inglaterra. Ia ser por pouco tempo, pensavam. Tornou-se permanente. E se em casa se falava japonês e se vivia como japoneses, a verdade é que a relação de Ishiguro com a sua terra natal acabou por se forjar no cinema, que ele hoje assume como a sua grande influência.

Estão a imaginá-lo tímido, nariz enfiado nos livros, dividido entre duas culturas? Esqueçam isso. Antes de entrar para a Universidade de Kent chegou a ser batedor na caça à tetraz em Balmoral, a magnífica propriedade da rainha de Inglaterra, e depois trabalhou muitos anos como assistente social. Pelo meio, escreveu canções e gostava de as interpretar nas ruas, ao mesmo tempo que sonhava ser um cantor/compositor famoso. Hoje, dessa fase só resta meia dúzia de guitarras, que mantém em casa. E evoluiu de escrever canções para escrever livros.

Aclamado largamente, Kazuo Ishiguro foi até nomeado para quatro Man Booker Prize. Ganhou um, em 1989 por “Despojos do Dia”, de que toda a gente já ouviu falar. Até fizeram um filme dele. Podia continuar a elencar os seus feitos literários - afinal o homem até tem direito a ter o seu retrato nas paredes da National Portrait Gallery, em Londres, como vos contei ontem.Mas isso encontram com facilidade na wikipedia. 

Talvez não seja tão fácil ficarem a saber que o homem algo enigmático que assina "Nunca Me Deixes" tem a mania de vestir sempre de preto; o seu apelido, traduzido em dois caracteres nipónicos, significa pedra preta: e é casado e tem uma filha de 20 anos chamada Naomi. 

Curiosamente, "Naomi" é o título de um livro de Junichiro Tanizaki, um dos mais reputados escritores nipónicos de sempre, obra de tal forma recheada de sensualidade que até se lhe referem como a Lolita japonesa, e, ao mesmo tempo, símbolo da mulher nipónica que é seduzida pela cultura ocidental. 

Algo me faz crer que a escolha desse nome para a filha diz muito sobre Ishiguro. E se foi uma mera coincidência... caramba, que coincidência tão literária, ao melhor estilo das tramas delicadamente tecidas pela sua escrita, como acontece em "Nunca Me Deixes". Mas do livro falamos em breve. Vão começando a ler.

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