segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Isto o que nos faz este livro: Por Este Mundo Acima


(«Por Este Mundo Acima» de Patrícia Reis foi a leitura conjunta do mês de Agosto aqui no blog)

“Pedro viu-o totalmente perdido de mágoa numa tarde em que conseguiram chegar perto do rio. A cor da água era tenebrosa, um verde e castanho que corria a grande velocidade.

Não há gaivotas.

O que são gaivotas?”

Isto o que nos faz este livro.
Uma mistura de sentimentos, verdes e castanhos escuros, muitos escuros, esperança e desolação.

Isto o que nos faz este livro.
Pôr-nos a pensar no que de facto é importante.
Num tempo em que não paramos para pensar.
O exercício de parar. Paradoxal, talvez?
O exercício de pensar.
Num tempo em que damos tudo por adquirido.
Basta premir um botão e faz-se luz, água, gás, voz, imagem, movimento.
Basta abrir a porta de um frigorífico.
Mas, e se um antes e um depois.
E o depois, o regresso a um tempo original, marcado pelo ritmo da luz, das chuvas, dos ventos, das estações.
O regresso a um tempo em que os olhos sem luz se fecham no sono, em que os olhos, aos primeiros barulhos da manhã, se abrem, quase sempre assustados, para mais um dia.
O regresso ao tempo dos olhos nos olhos, sem distracção ou intermediário.
A evidente necessidade do outro para sobreviver, assim que, quando tudo falta, dentro da catástrofe das catástrofes, que não nos faltem os olhos de um outro.
A imprescindibilidade de uma testemunha da nossa existência.

Isto o que nos faz este livro.
Mostrar-nos a evidência.
A evidente necessidade do outro para sobreviver.
E mais a estranha necessidade, mesmo quando tudo falta, da arte, da música, da literatura, na redenção cabal do humano.
Assim um livro de sobreviventes, de afectos, de pessoas… como nós.





4 comentários:

  1. António Tété Pereira3 de setembro de 2012 às 22:01

    Não conheço o livro,mas, pelo comentário da Raquel, vale a pena lê-lo.
    Nunca é demais sermos abanados para atentar no que de importante deixamos submerso na pequenez das coisas, que constituem a nossa diária preocupação.
    Sentimentos verdes e castanhos?...despoluí-los é mais difícil do que as águas do rio, por que estas podem receber um tratamento objectivo...com o coração as coisas são mais complicadas, até, por que, o destinatário dessa confusão cromático/sentimental, não merece, com frequência, algo mais cristalino e nítido.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Os seus comentários são sempre pertinentes e interessantes, obrigada :)

      Eliminar