sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Carta das Outras | livreiro vs Maria Teresa


(primeira carta escrita em papéis de multibanco esquecidos na carteira de ilustre leitora Maria Teresa para Livreiro Rodrigo que se despede da sua profissão de 17 anos)




Caro Sr. Livreiro ou Sr. Rodrigo,

Desculpe a carta nestes papéis dobrados. Mas não aguentei a notícia de sua partida, e estes foram os únicos meios que tinha para escrever-lhe.
Queria pedir-lhe, de forma egoísta e de filha única, que não vá. Quem vai aconselhar-me agora as boas novas palavras? E quem vai dizer-me que não vou gostar ou que já li este ou aquele autor em tempos?? Quem vai ler em conjunto comigo as críticas dos livros sentados naquelas poltronas verdes já gastas no forro e de tantas leituras..?
Acho que o amo.
A si… ou à sua profissão.
Estou envergonhada. A minha tez morena é agora repenicada por um tom rosa.
Não tenho mais papéis… espero que me leve consigo em novas leituras e que perdoe este meu jeito apressado e angustiado de quem segura futuras saudades.

Sua Teresa.


Querida Teresa,

Que surpresa! Adorei estes 4 papéis deixados na minha secretária de madeira abandonada.
Senti-me um ídolo, mesmo que falido. Sei o que sente e partilho-o. Adorava ser livreiro. Esta nova vida que escolhi vai afastar-me dessa rotina de palavras desenhadas mas não roubará as lembranças de cada minuto lido e relido.
Continuarei atento às novas capas.
Ao seu amor por mim… apanhou-me de surpresa. Serei eu assim tão atrapalhado que só leio as entrelinhas nos livros?
O que aconselhá-la a ler depois disto??
Não leia. Venha jantar comigo terça-feira.

Rodri, o seu fiel livreiro

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