(primeira carta escrita em papéis de multibanco esquecidos
na carteira de ilustre leitora Maria Teresa para Livreiro Rodrigo que se despede da sua
profissão de 17 anos)
Caro Sr. Livreiro ou Sr. Rodrigo,
Desculpe a carta nestes papéis dobrados. Mas não aguentei a
notícia de sua partida, e estes foram os únicos meios que tinha para
escrever-lhe.
Queria pedir-lhe, de forma egoísta e de filha única, que não
vá. Quem vai aconselhar-me agora as boas novas palavras? E quem vai dizer-me
que não vou gostar ou que já li este ou aquele autor em tempos?? Quem vai ler
em conjunto comigo as críticas dos livros sentados naquelas poltronas verdes já
gastas no forro e de tantas leituras..?
Acho que o amo.
A si… ou à sua profissão.
Estou envergonhada. A minha tez morena é agora repenicada
por um tom rosa.
Não tenho mais papéis… espero que me leve consigo em novas
leituras e que perdoe este meu jeito apressado e angustiado de quem segura
futuras saudades.
Sua Teresa.
Querida Teresa,
Que surpresa! Adorei estes 4 papéis deixados na minha
secretária de madeira abandonada.
Senti-me um ídolo, mesmo que falido. Sei o que sente e partilho-o.
Adorava ser livreiro. Esta nova vida que escolhi vai afastar-me dessa rotina de
palavras desenhadas mas não roubará as lembranças de cada minuto lido e relido.
Continuarei atento às novas capas.
Ao seu amor por mim… apanhou-me de surpresa. Serei eu assim
tão atrapalhado que só leio as entrelinhas nos livros?
O que aconselhá-la a ler depois disto??
Não leia. Venha jantar comigo terça-feira.
Rodri, o seu fiel livreiro
Sem comentários:
Enviar um comentário