segunda-feira, 10 de setembro de 2012

1º Parágrafo: Ensaios sobre o Amor


1. Em nenhuma outra área a ânsia por um destino é tão forte como na nossa vida amorosa. Sendo nós, tantas vezes obrigados, a partilhar a cama com quem não compreende a nossa alma, não será perdoável o facto de acreditarmos (contrariando todas as regras da nossa época iluminada) que havemos de encontrar, um dia, o homem ou a mulher, dos nossos sonhos? Não poderá ser-nos permitido um certo grau de supersticiosa fé numa criatura que trará  a solução dos nossos inexoráveis anseios? E, embora as nossas preces possam nunca ser respondidas, embora talvez não haja fim para o funesto ciclo da incompreensão mútua, se porventura os céus decidirem ter piedade de nós, será realmente legítimo pedir que atribuamos o encontro com esse príncipe ou princesa ao mero acaso? Não teremos direito a, por uma vez, voltar as costas à censura racional e considerar tal acontecimento parte inevitável do nosso destino romântico?


* Tradução de Sofia Gomes

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