1. Em nenhuma outra área a ânsia por um destino é tão forte como na nossa
vida amorosa. Sendo nós, tantas vezes obrigados, a partilhar a cama com quem
não compreende a nossa alma, não será perdoável o facto de acreditarmos
(contrariando todas as regras da nossa época iluminada) que havemos de
encontrar, um dia, o homem ou a mulher, dos nossos sonhos? Não poderá ser-nos
permitido um certo grau de supersticiosa fé numa criatura que trará a solução dos nossos inexoráveis
anseios? E, embora as nossas preces possam nunca ser respondidas, embora talvez
não haja fim para o funesto ciclo da incompreensão mútua, se porventura os céus
decidirem ter piedade de nós, será realmente legítimo pedir que atribuamos o
encontro com esse príncipe ou princesa ao mero acaso? Não teremos direito a,
por uma vez, voltar as costas à censura racional e considerar tal acontecimento
parte inevitável do nosso destino romântico?
* Tradução de
Sofia Gomes
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