Aqui não vais encontrar gente comum. Não depois de escurecer, por estas
ruas, sob os beirais dos velhos armazéns. Sabes isso, claro. A ideia é essa. É
por isso que estás aqui. Rajadas de vento vindas do rio agitam a poeira dos
edifícios em demolição. Junto ao paredão, vagabundos acendem fogueiras em
bidões enferrujados. Podes vê-los agrupados, envoltos em toda a sorte de roupa
resgatada ao lixo, casacas, camisolas ou qualquer combinação de ambas. Há
camiões estacionados junto aos armazéns, alguns deles ocupados, homens que
fumam na sombra, à espera que os homossexuais saiam dos bares em redor do Canal
Street. Estugas o passo, embora não para escapar ao frio. Gostas deste vento
cortante. Dobras uma esquina e mergulhas brevemente nele, sentindo as tuas
coxas agradavelmente modeladas sob o tecido esticado. Estilhaços de vidro
brilham como mica branca nos lotes vagos. O rio tem um odor a almíscar esta
noite.
* Tradução de
José Miguel Silva
* Revisão de
texto de Joana Serafim
* Capa e foto da
capa: Carlos César
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