sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Os livros como extensão do nosso corpo, entre o real e o virtual

“Professava o amor ao livro, o mais precioso e o mais estranho dos instrumentos humanos. Outros como o arado ou a espada são extensões da mão do homem; outros, dos olhos, ou da voz; o livro é uma perdurável extensão da nossa memória, dos nossos sentimentos e dos nossos sonhos”. Jorge Luis Borges em homenagem ao livreiro Luis Alfonso


Jorge Luis Borges (1899-1986), escritor argentino de vanguarda, foi um dos maiores representantes do realismo fantástico no mundo. O seu conto "A Biblioteca de Babel", publicado no livro Ficções, de 1944, pode servir de representação premonitória da sociedade da informação da actualidade. A leitura deste livro já tinha sido abordada num post anterior pelo Rodrigo Ferrão que podem recordar aqui.


Nesse conto, Borges pede que imaginemos uma biblioteca gigantesca que contivesse todos os livros possíveis, ou seja, um repositório de todas as combinações possíveis de letras, sinais e pontuação e espaços da língua inglesa. Espalhados  por toda essa vasta biblioteca de possibilidades colossais haveriam livros que fariam sentido - todos os livros escritos e todos os que ainda seriam escritos. Ao redor desses livros interessantes, e estendendo-se em todas as direcções  em estantes com o formato de colmeias, haveriam milhares de "quase-livros", livros que seriam quase iguais entre si, a não ser pela transposição de uma palavra, pela falta de uma vírgula.

Os livros  mais próximos do original seriam apenas ligeiramente diferentes mas, à medida que nos fossemos afastando, o conteúdo do livro degeneraria em mero palavreado.

A sociedade da informação é a cultura do virtual. A virtualidade desempenha um papel importantíssimo, uma vez que é responsável pela criação de uma supra-realidade que quebra duas limitações existentes no passado: o espaço e o tempo. Obviamente, a superação dessas duas barreiras cria a mobilidade, uma forma ágil de preservar-se contra o que se constitui uma ameaça.

A sociedade da informação é cíclica: um ciclo vicioso, perverso. Por meio do endeusamento da virtualidade, talvez já não exista o livre-arbítrio: o jogo seduz. A ordem dominante não se apresenta claramente, pois o objectivo é manter-se indirectamente imiscuída em tudo, vigiando e controlando sem que execute uma interferência dirigida.

Publicado em Portugal pela Teorema, "Ficções", é um livro de contos mais fantásticos do que policiais, dividido em duas partes, O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam (1941), composto por um prólogo e sete contos, e Artifícios (1944), composto também por um prólogo e nove histórias.

1 comentário:

  1. Uma excelente escolha, aliás qualquer livro do Borges o seria!

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